A História Como Ela Foi https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br passagens marcantes e curiosidades do Brasil e do mundo Sat, 14 Jul 2018 05:00:55 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Único critério possível para escolher entre França e Croácia é, claro, histórico em relação aos interesses brasileiros https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2018/07/14/unico-criterio-possivel-para-escolher-entre-franca-e-croacia-e-claro-historico-em-relacao-aos-interesses-brasileiros/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2018/07/14/unico-criterio-possivel-para-escolher-entre-franca-e-croacia-e-claro-historico-em-relacao-aos-interesses-brasileiros/#respond Sat, 14 Jul 2018 05:00:55 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/5c33d4de659b0c81fd3576b3a57b9b5b7fc4053a3ece8810efd5a78439cfb220_5b486838a706f-320x213.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=896 Como se comportar neste domingo? Torcer para a zebra croata e ver o circo das Copas pegar fogo? Ou para a França, respeitando tradições e evitando que arrivistas banalizem a taça?

Apressados defenderão que se torça para o melhor futebol.

Exagerados evocarão simpatias e antipatias pelas nações, percursos históricos, estilos de mandatários, virtudes gastronômicas, qualidade das praias e estética de hinos ou bandeiras nacionais. Mas o que isso tudo tem a ver com uma final de Copa do Mundo?

Só há um critério possível ao espectador brasileiro patriota: o histórico dos dois países finalistas em relação aos nossos próprios interesses nacionais. Qual país é menos motivo de constrangimento para o Brasil do ponto de vista, por exemplo, bélico?

Sobre a Croácia, há pouco a dizer. Tendo se declarado independente apenas em 1991, a nação eslava tem tão poucos elos geopolíticos com o Brasil que os principais lances da relação incluem encontros, este ano, da presidente croata com Geraldo Alckmin e Paulo Skaf.

Não há registros de incidentes diplomáticos ou militares graves.

A decisão sobre a torcida recai, portanto, sobre nossos séculos de relação com o Estado francês.

Aí o jogo esquenta. Quando ainda não éramos um país, a França tentou tomar nosso território colonial em várias oportunidades, de São Luís ao Rio.

Para o lamento dos que fantasiam com uma Paris n’América e para alegria dos que imaginam um passado à la Indochina, os franceses foram repelidos pelos portugueses.

Aninharam-se, porém, como nossos vizinhos, formando a Guiana Francesa.

De lá, entre o fim do século 19 e o começo do 20, estimularam separatismos no atual Amapá e chegaram a invadi-lo em 1895.

Sob o custo de vidas militares e civis, mantivemos nossa integridade.

Vai, Croácia?

Calma. Depois disso, a paz franco-brasileira imperou.

Evitamos derramar sangue em 1961, quando não foi adiante suposto plano de Jânio Quadros de anexar a Guiana, ou em 1963, quando uma tal Guerra da Lagosta apenas mobilizou navios de guerra dos dois lados nos mares do Nordeste.

É falso que no meio dessa crise o presidente Charles de Gaulle tenha dito que o Brasil não é um país sério.

Se há dúvida de que o saldo da relação é benéfico para nós, o desempate vem do ataque de Napoleão, que ao mandar para cá, fugida, a corte de dom João 6º, lançou involuntariamente a semente da independência brasileira.

José Bonifácio fecha com Mbappé.


Estou produzindo uma série de podcasts sobre a história dos presidentes brasileiros, o Presidente da Semana. O programa em áudio contará em ordem cronológica a história dos presidentes brasileiros até o eleito ou a eleita em outubro deste ano. Ouve lá!

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Já ouviu a série de podcasts Presidente da Semana? https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2018/05/26/ja-ouviu-a-serie-de-podcasts-presidente-da-semana/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2018/05/26/ja-ouviu-a-serie-de-podcasts-presidente-da-semana/#respond Sat, 26 May 2018 22:53:50 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/AHi_j0250-320x213.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=893 Estou devendo uma satisfação sobre o reduzido ritmo de posts aos leitores que aparecem por aqui.

Mas peço compreensão, fiel leitor!

Se o blog tem sido escasso em atualizações, o espírito da História Como Ela Foi aparece com fartura em outra paragem.

Tenho produzido desde abril deste ano uma série de podcasts sobre a história dos presidentes brasileiros, o Presidente da Semana.

O programa em áudio contará em ordem cronológica a história dos presidentes brasileiros até o eleito ou a eleita em outubro deste ano.

Você pode ouvir todos os episódios disponíveis aqui.

Para quem lembra, comecei a experimentar com o formato em áudio no ano passado, com os podcasts A História Como Ela foi (todos disponíveis aqui).

Aqueles três “pilotos” de 2017 preparam as bases para a série presidencial de agora.

A questão é que o Presidente da Semana, como deixa claro o nome, é semanal. E além de produzi-lo, faço a pesquisa, apresentação e publicação dos podcasts.

Isso tudo, somado ao trabalho diário na editoria de Poder da Folha em ano eleitoral, me tirou o tempo necessário para produzir conteúdo exclusivo para o blog.

Afinal, o tempo é inelástico e dormir ainda continuar a ser uma exigência física.

O Presidente da Semana vai até o fim de outubro de 2018. Espero voltar a contar boas histórias por aqui com mais frequência depois disso!

 

 

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Lula é o primeiro presidente da história do Brasil preso após condenação penal https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2018/04/06/lula-e-o-primeiro-presidente-da-historia-do-brasil-preso-apos-condenacao-penal/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2018/04/06/lula-e-o-primeiro-presidente-da-historia-do-brasil-preso-apos-condenacao-penal/#respond Fri, 06 Apr 2018 11:05:17 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2018/04/menor-320x213.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=879 Luiz Inácio Lula da Silva, 72, é a primeira pessoa a ocupar a cadeira de presidente da República a ser presa após ser condenado na esfera penal.

Na história republicana, só tiveram a cadeia como destino mandatários ou ex-mandatários suspeitos ou acusados de crimes políticos, em meio a crises e golpes.

O próprio Lula tem outra prisão, em 1980, em seu histórico, mas que não conta no critério porque 1) embora popular líder sindical, ele ainda estava a muitos anos de ter em sua biografia a faixa presidencial; e 2) o encarceramento ocorreu sob a ditadura militar, quando inexistia no país Estado de direito –o jovem sindicalista foi tirado de casa sob acusação de “incitação à desordem”, chegou a ser condenado na Justiça Militar e o processo acabou anulado. Um juízo político, portanto.

O caso que mais se aproxima do caso da atual situação Lula, com algum tipo de tramitação na esfera judicial, ocorreu há quase 96 anos.

Em julho de 1922, foi preso o marechal Hermes da Fonseca, que chefiara o Poder Executivo federal de 1910 a 1914 –cerca de sete anos e meio após deixar a cadeira presidencial, intervalo semelhante ao do petista.

Então presidente do Clube Militar, Hermes teve a prisão decretada pelo próprio presidente Epitácio Pessoa, após contestar a repressão do governo contra grupos insatisfeitos com a eleição de Artur Bernardes para o Palácio do Catete.

Após sofrer um infarto, o ex-presidente foi liberado, voltando a ser preso dias depois, com a revolta no Forte de Copacabana. Com o tenentismo em seu pé, Epitácio decretou estado de sítio.

Hermes seria libertado após um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal em seu favor em janeiro de 1923. Doente, morreria em setembro daquele ano.

A defesa argumentava que o ex-presidente sofria constrangimento ilegal, pois estava preso sem culpa formada e com o processo irregularmente na esfera militar quando o caso era de crime político, sujeito à jurisdição civil.

Mas se também teve processo judicial, o caso Hermes foi essencialmente político, além de reunir as excentricidades de um Brasil de instituições consideravelmente mais fracas que as de hoje.

Eram os tempos da república oligárquica do café com leite, que vetava o voto secreto, dos numerosos analfabetos e até dos “mendigos”, conforme grafava a Constituição da época.

MAIS PRISÕES

As demais prisões de mandatários brasileiros ocorreram sob ainda mais arbítrio.

Com direitos políticos cassados pela ditadura iniciada em 1964, Juscelino Kubitschek foi aprisionado em um quartel após a edição do AI-5, em 1968, que endureceu o regime. Em seguida, passou um mês em prisão domiciliar.

Jânio Quadros foi outro detido naquele ano, ainda antes do AI-5, por ter feito críticas ao regime militar. Por ordem do governo, ficou temporariamente “confinado” a Corumbá, que hoje integra Mato Grosso do Sul. Ele era natural de Campo Grande.

A Era Vargas coleciona dois ex-presidentes presos. A primeira vítima foi Washington Luís, que, deposto pelo levante liderado por Getúlio Vargas em 1930, foi preso e partiu para o exílio.

Artur Bernardes perdeu a liberdades duas vezes. Primeiro, em 1932, ao apoiar a Revolução Constitucionalista. Depois, em 1939, após Getúlio decretar o Estado Novo.

Já Café Filho (1954-1955) chegou a ficar mantido incomunicável em seu apartamento, guardado pelo Exército, antes de ter seu impedimento votado pelo Congresso durante a crise que precedeu a posse de JK.

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Passado do Exército recomenda cautela a quem lhes dá força no presente https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2018/03/05/passado-do-exercito-recomenda-cautela-a-quem-lhes-da-forca-no-presente/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2018/03/05/passado-do-exercito-recomenda-cautela-a-quem-lhes-da-forca-no-presente/#respond Mon, 05 Mar 2018 09:00:37 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2018/03/15198617415a973fed0726e_1519861741_3x2_lg-320x213.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=856 Uma cerimônia em Brasília na quarta (28) ajudou a juntar pontos do passado e do presente das Forças Armadas.

Cercado de amigos oficiais, o general Antonio Hamilton Mourão entrou para a reserva e, em discurso, elogiou o coronel Carlos Brilhante Ustra, que chefiou o DOI-Codi paulista, um dos principais centros de repressão e tortura da ditadura militar.

Em entrevista, Mourão incluiu Michel Temer entre os que deveriam ser expurgados da vida pública. Disse que trabalhará pela eleição de Jair Bolsonaro, outro saudoso de Ustra e da ditadura. À piauí prometeu ainda afinar uma frente de candidatos militares pelo país.

General Antonio Hamilton Mourão se emociona durante sua cerimônia de despedida do Exército – Pedro Ladeira/Folhapress

Na ativa, quando era proibido de fazê-lo, Mourão já atacara Temer, Dilma e sugerira uma intervenção militar. Chegou a ser transferido de função, mas pôde aguardar a aposentadoria sem maiores contratempos, ganhando popularidade entre os entusiastas do militarismo.

Mais sintomática do ponto de vista histórico foi a declaração de Mourão sobre a intervenção militar no Rio. Trata-se de algo “meia-sola”, disse.

O general buscou no século 19 o exemplo das intervenções imperiais nas províncias. Evocou o duque de Caxias, que acumulava nesses casos não só o poder militar, mas político.

Presente na despedida, o comandante do Exército, general Eduardo Villas-Bôas, saudou no Twitter a liderança e a disciplina intelectual do amigo.

O mesmo Villas-Bôas que, prolífico em manifestações públicas, citou em 2017 o americano Samuel Huntington, que inspirava os militares durante a ditadura: “A lealdade e a obediência são as mais altas virtudes militares; mas quais serão os limites da obediência?”

Sem um colchão de votos diretos e coberto por apenas 6% de popularidade, Temer se cercou de militares como nenhum outro presidente no passado recente.

Sérgio Etchegoyen, do Gabinete de Segurança Institucional, Joaquim Silva e Luna, ministro interino da Defesa, e Walter Braga Netto, interventor no Rio, são apenas os principais generais alçados ao primeiro escalão do temerismo.

A exaltação das intervenções de Caxias, da ditadura e o questionamento da obediência entre generais mostram que continua popular uma espécie de mito fundador dos militares: a ideia de que os formados na caserna são mais éticos e preparados que os civis. E, portanto, mais aptos a guiar os destinos nacionais. (já falei mais a respeito aqui)

O argumento vingou –ou tentou vingar– na queda da monarquia, no tenentismo, na ascensão, renúncia e suicídio de Getúlio Vargas, nos anos JK, na saída de Jânio Quadros e, claro, na ditadura militar.

Na história republicana, o protagonismo dos quartéis só não ensaiou bater à porta dos brasileiros de forma significativa nas décadas de 1900, 1990 e 2000. A ver se poderemos incluir os anos 2010 na lista.

Os interessados em ver o Exército no centro da arena têm em 2018 oportunidade de ganhar espaços. Se a intervenção no Rio der certo, por que não um militar na Saúde, nos Transportes, na Petrobras?

Nem é preciso repetir um golpe à moda antiga para que o popular e minoritário contingente militar da sociedade aproveite o empoderamento cedido pelos civis para almejar funções menos operacionais. Já almejaram e conseguiram antes.

]]> 0 Diferentemente do que disse Lula, familiar de juiz não matou Antônio Conselheiro em Canudos https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2018/01/17/ao-contrario-do-que-disse-lula-familiar-de-juiz-nao-matou-antonio-conselheiro-em-canudos/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2018/01/17/ao-contrario-do-que-disse-lula-familiar-de-juiz-nao-matou-antonio-conselheiro-em-canudos/#respond Thu, 18 Jan 2018 00:06:52 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/AHi_j0076-180x119.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=799 Não é verdadeira a declaração de Lula de que um parente do presidente do TRF-4, Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz, matou Antônio Conselheiro, líder da revolta de Canudos, no fim do século 19.

Em ato na terça (16), o petista afirmou: “Esse cidadão é bisneto do general que invadiu Canudos e matou Antônio Conselheiro. Talvez ele ache que eu seja cidadão de Canudos”.

Foram três as incorreções do ex-presidente da República.

Segundo o TRF-4, Flores é na verdade sobrinho trineto de Tomás Thompson Flores.

Ele era coronel, e não general, quando foi morto em combate durante tentativa do Exército de subjugar o arraial baiano.

O militar, que também foi deputado federal no começo da República, foi morto em junho de 1897.

Conselheiro só morreria em setembro daquele ano.

Prisioneiros feitos pelo Exército em Canudos (Flávio de Barros/Arquivo Histórico do Museu da República)

Em “Os Sertões”, obra que tornou célebre o conflito em Canudos, Euclydes da Cunha escreveu sobre o trisavô do juiz: “Era um lutador de primeira ordem. Embora lhe faltassem atributos essenciais de comando e, principalmente, esta serenidade de ânimo, que permite a concepção fria das manobras dentro do afogueamento de um combate –sobravam-lhe coragem a toda a prova e um quase desprezo pelo antagonista por mais temeroso e forte, que o tornavam incomparável na ação”.

Em seguida, Cunha faz o relato que levou à morte do militar, que, impetuoso e descuidado, avançou sobre os inimigos identificado como oficial, tornando-se alvo fácil.

“A sua brigada investiu, batida em cheio pelos fogos diretos do inimigo entrincheirado; e, quase cem metros da posição primitiva, a vanguarda desenvolveu-se em atiradores. O coronel Flores que, a cavalo, lhe tomara a frente, descavalgou, então, a fim de pessoalmente ordenar a linha de fogo. Por um requinte dispensável, de bravura, não arrancara dos punhos os galões que o tornavam alvo predileto dos jagunços. Ao reatar-se, logo depois, a avançada, baqueou, ferido em pleno peito, morto.”

Tendo à frente Conselheiro e seu rígido messianismo católico, o movimento de Canudos ficou famoso não apenas graças a Euclydes da Cunha, mas pela façanha dos revoltosos miseráveis de rechaçar seguidas ofensivas do Exército brasileiro.

A então jovem República ganhou a opinião pública ao vender Conselheiro e seus seguidores como fanáticos ligados a um plano para restaurar a monarquia.

O corpo exumado de Antônio Conselheiro (Flávio de Barros/Arquivo Histórico do Museu da República)

O experimento comunal de Canudos, que atraiu sertanejos empobrecidos da região, e a repressão dele pelos militares fez com que, décadas depois, o líder da revolta fosse resgatado como ícone na esquerda brasileira.

AVÔ NO SUPREMO

Além de parente do coronel de trágico fim, o presidente do TRF-4 é neto do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Carlos Thompson Flores.

Nomeado para a corte pelo presidente Costa e Silva, segundo militar a comandar o país sob a ditadura militar, o ministro Flores guarda em sua biografia críticas ao regime.

Em 1977, ano em que assumiu a presidência do STF, ele defendeu o fim das restrições contidas nos atos institucionais. Voltou ao tema no ano seguinte, quando disse esperar para breve o fim do AI-5.

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As histórias que merecerão ser lembradas em 2018 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/12/21/as-historias-que-merecerao-ser-lembradas-em-2018/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/12/21/as-historias-que-merecerao-ser-lembradas-em-2018/#respond Fri, 22 Dec 2017 01:30:18 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2017/12/15131692845a3121846fde9_1513169284_3x2_md-180x120.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=777 Em 2017, o cardápio deste blog incluiu temas inescapáveis, como os centenários da Revolução Russa (com destaque para o violentíssimo assassinato da família Romanov) e da entrada do Brasil na 1ª Guerra Mundial.

Mas também lembrou de episódios mais obscuros, como a vez em que o Brasil demorou seis meses para perceber que tinha sido invadido pela Inglaterra ou a perseguição de cristãos no Japão do século 17.

A história mundial foi foco dos posts sobre os fantasmas trazidos para ingleses e franceses com o filme “Dunkirk” e sobre os tempos mais moleques em que os líderes mundiais eram menos polêmicos e ranzinzas e mais festivos.

Já a história brasileira apareceu nos textos sobre os 53 anos do golpe militar de 1964, o histórico de antecipação de eleições presidenciais e a memória de nossos ex-presidentes que já tiveram problemas na Justiça.

PODCAST

Gostei de escrever todas essas histórias. Mas a maior razão de orgulho para o blog neste ano foi a estreia da “História Como Ela Foi” em podcast.

Gravei três episódios até aqui.

Teve aquele em que lembrei dos podres dos presidentes dos EUA.

Outro sobre os 80 anos do Estado Novo, a ditadura de Getúlio Vargas.

E mais um tentando responder uma questão: por que a miscigenação foi menor nos EUA que no Brasil?

Dá para ouvir (ou voltar a ouvir) os podcasts nos links acima.

Ou, se você preferir, direto em Apple Podcasts (iOS), SoundCloud (iOS e Android), TuneIn (iOS e Android) e Stitcher (iOS e Android).

E AGORA, 2018?

Como a especialidade do blog é o passado, e não o futuro, fica difícil prever quais serão os temas que aparecerão por aqui no ano que começa logo mais.

Mas o brainstorm pode começar pela lembrança dos principais aniversários de 2018.

O ano que vem terá alguns centenários.

1918 foi o ano em que enfim acabou a 1ª Guerra Mundial, que traumatizou toda uma geração e, com a humilhação imposta pelos aliados anglofranceses à Alemanha, lançou as sementes da 2ª Guerra, que começaria em 1939.

Ilustração mostra assinatura do armistício de 1918, que encerrou Primeira Guerra

Também foi o ano em que eclodiu a epidemia de gripe espanhola, considerada a mais grave da história da humanidade.

No Brasil, a doença matou até o presidente eleito da época, Rodrigues Alves.

Ironicamente, o ano também marca os aniversários de cem anos de João Goulart, presidente civil deposto pelos militares em 1964, e João Baptista Figueiredo, o último general-presidente da ditadura.

Para os entusiastas de passados mais distantes, haverá o bicentenário de Karl Marx, que, se estivesse vivo (rs), faria aniversário em 5 de maio.

Os 200 anos do patriarca comunista promete movimentar redes sociais e grupos de WhatsApp.

Se estivessem vivos, Stanley Kubrick faria 90 anos em julho e Michael Jackson, 60 em agosto.

No mesmo mês de Michael, Madonna, que viva está, completa os mesmos 60 anos.

Imortal, Mickey Mouse fará 90 anos em 2018.

Cartaz de “Steamboat Willie”, estreia de Mickey Mouse

Outras datas cheias para se ter em mente: os 80 anos do início da ditadura de Francisco Franco na Espanha e os 70 anos da proclamação do Estado de Israel.

No Brasil, a atual Constituição completará 30 anos em 5 de outubro.

Ulysses Guimarães segura exemplar da Constituição de 1988

Em nosso instável país, já é a terceira Carta mais duradoura. Só perde para as de 1891 (43 anos) e a de 1824 (67 anos).

E fará 25 anos que os brasileiros rejeitaram o parlamentarismo e a monarquia em um plebiscito, optando por manter o país uma república presidencialista –a mudança para o parlamentarismo continua em conversas políticas até hoje.

Tucanos celebrarão.

O partido, hoje em crise, também fará 30 anos.

E se completarão 20 anos da reeleição de Fernando Henrique Cardoso, primeiro presidente reeleito e único membro da sigla a ocupar a Presidência até hoje.

O ANO QUE NÃO TERMINOU

Dá para dizer sem medo de errar que o grande aniversário mesmo em 2018 será um cinquentenário.

No caso, o do ano de 1968.

O ano teve convulsões e crises no Brasil e no mundo.

Para entendê-lo, vale ler o livro de Zuenir Ventura, “1968 – O ano que não terminou”.

No mundo, o ano começou com a Tchecoslováquia comunista achando que podia fazer reformas liberais, em janeiro.

Foi a Primavera de Praga.

Cena da Primavera de Praga

Os soviéticos, que mandavam nos países comunistas, não gostaram e invadiram o país em agosto do mesmo ano.

Também no início daquele 1968, vietnamitas do norte lançam a ofensiva do Tet, que embora tenha sido barrada pelos EUA e seus aliados no sul, expõe ao mundo os horrores da guerra no sudeste asiático e contribui para virar a aumentar a oposição da opinião pública americana contra o conflito.

Em março daquele ano, tropas americanas mataram centenas de civis, incluindo mulheres e crianças, no massacre de My Lai.

Ainda nos EUA, dois assassinatos, em abril e junho, chocaram o país: Martin Luther King, líder da luta pelos direitos civis dos negros, e Robert Kennedy, então presidenciável e irmão do presidente também assassinado John Kennedy.

O grande símbolo daquele ano de crises foi o maio de 1968 francês, no qual estudantes se rebelaram contra o governo e paralisaram Paris e a França.

Grafite na França com a frase “É proibido proibir”

O Brasil não ficou alheio aos ventos de mudança.

Na Passeata dos Cem Mil, em junho, estudantes e políticos de oposição ousaram desafiar o governo militar e foram às ruas no Rio para pedir mais liberdades.

Para fazer frente às contestações, a ditadura dobra a aposta e enterra o Estado de direito com o Ato Institucional nº 5, de dezembro, em que suprime liberdades individuais, fecha o Congresso e cassa mandatos parlamentares.

A norma, que representou o endurecimento do regime, existiria por dez anos.

Naquele mesmo mês, estrearia nos cinemas o filme “O Bandido da Luz Vermelha”, de Rogério Sganzerla, ícone do cinema nacional.

Entre tantos memoráveis, vale lembrar de um diálogo do filme:

“– Senhor, o que você acha da miséria?

– Que miséria, meu filho? Um país sem miséria é um país sem folclore! E um país sem folclore… O que é que nós podemos mostrar pro turista?”

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Estado Novo, o lado mais sombrio e esquecido do legado de Getúlio Vargas https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/11/14/estado-novo-o-lado-mais-sombrio-e-esquecido-do-legado-de-getulio-vargas/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/11/14/estado-novo-o-lado-mais-sombrio-e-esquecido-do-legado-de-getulio-vargas/#respond Tue, 14 Nov 2017 14:59:20 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2017/11/Propaganda_do_Estado_Novo_Brasil-119x180.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=760 O homem que por mais tempo presidiu o Brasil entrou para a história por promover a estruturação do Estado brasileiro e investir na industrialização do país.

Graças às legislações que criou na área social, ganhou entre apoiadores o apelido de “pai dos pobres”.

Não falta quem veja, à esquerda ou à direita, um saldo positivo do legado de Getúlio Vargas.

Mas o segundo episódio em áudio da História Como Ela Foi se dedicará a entender o lado negativo da equação getulista: a ditadura do Estado Novo, cujo início completou 80 anos no último dia 10 de novembro.

É só clicar abaixo.

Também dá para escutar o podcast direto no aplicativo do SoundCloud, no aplicativo de podcast da Apple, no Stitcher e no TuneIn.

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Antecipação de eleição presidencial jamais ocorreu no Brasil fora de ditaduras ou mudanças de regime https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/06/03/antecipacao-de-eleicao-presidencial-jamais-ocorreu-no-brasil-fora-de-ditaduras-ou-mudancas-de-regime/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/06/03/antecipacao-de-eleicao-presidencial-jamais-ocorreu-no-brasil-fora-de-ditaduras-ou-mudancas-de-regime/#respond Sat, 03 Jun 2017 11:00:12 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2017/06/AX199_1859_9-180x146.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=658 Partidos e movimentos de esquerda, como o PT, têm discutido a ideia de antecipar para este ano, logo após uma eventual queda de Michel Temer, as eleições gerais marcadas para outubro de 2018.

A antecipação ou o adiamento de um pleito presidencial não encontra paralelos nos 127 anos da república brasileira, exceto em momentos de ditadura ou de transição de regime.

(Vale registrar quão improvável é botar o plano em prática com o Congresso majoritariamente resistente mesmo a hipótese mais simples: a proposta de emenda à Constituição que permitiria elegermos diretamente um presidente-tampão que governaria só até o fim de 2018, sem eleição também de novos deputados e senadores. Tamanha é a dificuldade que petistas admitem que o que vale é apoiar diretas, não necessariamente com uma eleição geral antecipada.)

As ditaduras de Getúlio Vargas ou a militar foram pródigas em mudar datas de eleições e as regras do jogo em curso.

Chegando ao poder na marra em 1930, Vargas foi escolhido presidente indiretamente em 1934, quatro anos após perder uma eleição direta.

Ao instalar seu Estado Novo em 1937, deixou de realizar o pleito presidencial previsto para o ano seguinte. Empurrou a eleição com a barriga até onde pôde –ela só ocorreria após o ditador ser forçado a entregar o poder, no fim de 1945.

O ditador Getúlio Vargas acena para populares em 1944. O país não via uma eleição direta para presidente desde 1930 (Cpdoc/FGV)

Desembarcando no poder em 1964, o regime militar teve como primeiro presidente o marechal Humberto Castelo Branco (foto no alto do post) eleito indiretamente pelo Congresso logo após o golpe de 1964 –a ditadura deixou de realizar o pleito direto previsto para 1965.

Entre outros arbítrios, Ernesto Geisel emendou em 1977 a própria Constituição imposta pela ditadura para ampliar o mandato presidencial de cinco para seis anos –o beneficiário foi o general João Baptista Figueiredo, que governou de 1979 a 1985.

Sucessor de Figueiredo, Tancredo Neves foi eleito por voto indireto do Congresso, ainda de acordo com as normas do regime que saía de cena. O vice José Sarney viu o próprio mandato ser encurtado para cinco anos pela Constituição de 1988. A eleição que seria em 1990 foi em 1989.

Ao lado de Sarney, Tancredo é proclamado presidente indireto (Folhapress)

Foram derrotados os constituintes que queriam ainda menos tempo: quatro anos de mandato –o que só ocorreria por meio de uma emenda constitucional de revisão em 1994.

Fora esses períodos de exceção ou de transição democrática, os pleitos presidenciais sempre ocorreram de acordo com o previsto, como costuma ser regra em regimes presidencialistas. Nos parlamentaristas, antecipações são comuns, vide o Reino Unido hoje.

PRESIDENTE POR SEIS ANOS E MEIO

Apesar de todo o ineditismo, o especialista em história constitucional Luiz Guilherme Arcaro Conci, professor da PUC-SP, defende uma antecipação do pleito presidencial –mas apenas dele, por entender a renovação periódica do Congresso a cada quatro anos fomenta a confiança na democracia.

Conci diz considerar plenamente constitucional que, via emenda à Carta devidamente aprovada por deputados e senadores, seja definido que o presidente eleito cumpra o que resta de mandato de Temer mais os quatro anos do mandato seguinte, de 2019 a 2022.

“É uma medida excepcional, mas que fomenta a participação do povo. É ele quem tem que decidir em momentos de crise como deve ser formulada uma transição. Se não, caímos em um modelo de democracia elitista, onde uma parcela desse povo entende-se habilitada para resolver a situação”, afirma.

“Quando você faz mudanças na Constituição em momentos democráticos para aprofundamento da legitimação popular, você não pode entender como casuísmo.”

Venda de faixas contra Temer e pelas diretas durante ato no Rio no domingo (28). (Mauro Pimentel/Folhapress)

 

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Aniversariante do dia, golpe de 1964 bebeu na fonte de mentalidade militar nascida no século 19 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/03/31/aniversariante-do-dia-golpe-de-1964-bebeu-na-fonte-de-mentalidade-militar-nascida-no-seculo-19/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/03/31/aniversariante-do-dia-golpe-de-1964-bebeu-na-fonte-de-mentalidade-militar-nascida-no-seculo-19/#respond Sat, 01 Apr 2017 00:29:45 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2017/03/BX042_2E8E_9-180x118.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=598 Há exatos 53 anos, em um mesmo 31 de março, as Forças Armadas brasileiras iniciaram o processo que golpeou a lei e as alçou ao poder por 21 anos.

A tomada do Estado –viabilizada pelo apoio da elite civil e dos EUA– tinha como justificativas fatos e fantasias.

Fato era que o governo do presidente João Goulart era ruim na economia. Além disso, suas posições estatizantes e nacionalistas se opunham às dos empresários. Parte da base militar era simpática à agenda de Jango, o que causava nos oficiais pesadelos de quebra da hierarquia.

A fantasia, fosse ela baseada em boa ou má-fé, era de que o destino do governo era implantar uma república socialista, transformando o Brasil em uma Cuba continental. Isso ocorreria, se não pela improvável vontade do inábil Jango, pela influência que os comunistas exerceriam sobre ele.

Pesava o fato de que o mundo vivia sob a Guerra Fria. Um governo que hoje seria algo como um “blend” de Lula, Dilma e Itamar –com pitadas de Ciro– soava aos paranoicos como um satânico lacaio de Moscou.

Ou seja, se não viesse da direita, o golpe e a ditadura viriam da esquerda. Melhor se antecipar, concluíam os pais de 1964.

PILHA ERRADA

A noção de que os militares às vezes precisam chegar a cavalo para nos salvar de nós mesmos não é nova.

Em seu “1889”, que conta a história do golpe que derrubou a monarquia, Laurentino Gomes lembra que a pilha errada é antiga.

Estruturado de fato no Brasil na segunda metade do século 19, o Exército foi intelectualmente influenciado pelo positivismo, que, entre tantas outras coisas, defendia uma reforma da sociedade por uma elite científica e intelectual que implantaria uma república de cima para baixo.

Seria melhor que o povo fosse guiado por quem entendia das coisas, evitando desordem que botasse em risco o progresso.

Quem entendia das coisas? O Exército.

Marechal Deodoro da Fonseca, primeiro presidente da República e pivô do golpe que derrubou o imperador dom Pedro 2º

Tal convicção pegou de jeito parte importante da elite militar. Apareceu no tenentismo, nas crises militares dos anos 1940 e 1950 e, enfim, em 1964.

“Da mesma forma, haveria no golpe militar de 1964 um eco positivista tardio, tão profundamente arraigado no pensamento militar estaria a ideia de um grupo iluminado capaz de conduzir de forma ditatorial os rumos da perigosamente instável República brasileira”, escreve Gomes.

MILITARES X CIVIS

A certeza dos militares de que eram uma reserva moral e técnica da nação levou a uma animosidade em relação aos civis.

Laurentino Gomes lembra que as autoridades não militares eram apelidadas de “becas” (ou “casacas”), em referência à tradição histórica de formação em direito da elite civil.

Ilustração exibe Deodoro com a Constituição de 1891

Fundador do Clube Militar, em 1887, Sena Madureira (hoje nome de rua na zona sul de São Paulo), defendia a preparação “para a luta que teremos de sustentar contras as becas”.

“Generalizara-se entre os militares a convicção de que só os homens de farda eram ‘puros’ e ‘patriotas’, ao passo que os civis, ‘os casacas’, como diziam, eram corruptos, venais e sem nenhum sentimento patriótico”, afirma Emília Viotti da Costa em “Da Monarquia à República”.

NÃO ROLOU

O fracasso econômico do fim do regime militar e sobretudo sua condenação perante à história por barbarizar opositores fez a ideia de “salvadores da pátria” refluir depois da redemocratização.

Tampouco resta de pé a ideia de que militares teriam a primazia da ética. As empreiteiras hoje em desgraça se agigantaram sob as asas do generalato –na época, a censura garantia que nada apareceria na imprensa.

Uma minoria histérica e com conhecimento limitado de história e política já deu as caras em Brasília e São Paulo recentemente e dá a impressão de que as viúvas da ditadura são mais numerosas do que são.

A se acreditar no submundo da internet, parece ter mais relevância do que tem a crença de que as Forças Armadas devem se meter na política, extrapolando o treinamento especializado (e importante) que receberam.

Mas é o próprio comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, que corta o barato.

Disse ele este ano ao “Valor Econômico”: “Existe um sistema de pesos e contrapesos que dispensa a sociedade de ser tutelada. Não pode haver atalhos nesse caminho. A sociedade tem que buscar esse caminho, tem que aprender por si”.

Para o bem dos “becas”, o Exército mudou.

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Relembre momentos em que o Brasil foi governado por regentes https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2016/03/16/relembre-momentos-em-que-o-brasil-foi-governado-por-regentes/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2016/03/16/relembre-momentos-em-que-o-brasil-foi-governado-por-regentes/#respond Wed, 16 Mar 2016 21:01:26 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2016/03/feijo-129x180.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=264 No próximo mês, o Brasil completará 185 anos do início do período da Regência, iniciado após a abdicação do imperador Pedro 1º, em 1831.

Na época, o pequenino Pedro, seu filho e futuro Pedro 2º, tinha 5 anos de idade, o que evidentemente se colocava como obstáculo para o pleno funcionamento de suas capacidades administrativas.

A solução prevista pela Constituição seria nomear um regente para tocar o país até que o jovem monarca completasse 18 anos.

A Regência foi um período de caos e violência. Sem um líder forte, o jovem e enorme país viu anos de luta entre suas elites políticas e econômicas. A administração centralizada do Império se chocava com os interesses regionais –levando a uma onda de revoltas provinciais, entre as quais se destacam a Farroupilha, no Rio Grande do Sul, e a Cabanagem, no Grão-Pará.

Nesse ambiente de salve-se quem puder, quatro regências diferentes se sucederam: uma trina (pois formada por três senadores) provisória, seguida de uma permanente, indicada pelo Parlamento. Permaneceu por só quatro anos, sendo trocada por uma regência una.

A primeira delas teve à frente o padre Diogo Feijó, instável e com constantes trocas de ministros. Seguiu-se a ele Pedro de Araújo Lima, o marquês de Olinda, que buscou concentrar mais poderes e força para controlar o país, embora a agitação nas ruas continuasse.

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Padre Diogo Antônio Feijó, um dos regentes do Império. (Litografia de de S. A. Sisson, 1861/Biblioteca Brasiliana)

Enquanto isso, o herdeiro do trono era submetido a uma educação severa, com horários para tudo, com o intuito de prepará-lo para o governo. Chegava a comer separado das irmãs e acompanhado por um médico para que não comesse demais, relata José Murilo de Carvalho.

Em meio às sucessivas crises e com perspectiva de perda de poder para o grupo conservador, os liberais da época reagiram com um golpe de Estado em 1840 que antecipou a maioridade de dom Pedro, à época ainda com menos de 15 anos.

Sem regentes e novamente com um imperador, o país dava os primeiros passos em direção à estabilidade do Segundo Reinado.

Outros regentes

Além dos regentes do pequeno Pedro 2º, o Brasil pré-republicano teve ainda dois príncipes regentes. Devido à loucura da rainha Maria 1ª, seu filho dom João foi regente do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves desde a criação do reino, no Rio de Janeiro, em 1808, até 1815, quando a rainha morreu e ele se tornou o rei dom João 4º.

Depois da volta de dom João a Lisboa, seu filho Pedro foi regente do Reino Unido de 1821 até proclamar a independência brasileira de Portugal, no ano seguinte. Para que ser mero regente quando se pode ser imperador?

A princesa Isabel, herdeira de Pedro 2º, também ocupou a regência em diversos períodos de ausência do pai. Foi num deles que assinou a Lei Áurea.

Regências republicanas

Embora o conceito de regente esteja diretamente ligado à monarquia, a República iniciada com o golpe militar de 1889 também teve períodos em que alguém governou o país de fato no lugar do titular.

Em 1918, Delfim Moreira, vice-presidente eleito, assumiu o cargo após o titular, Rodrigues Alves, morrer antes da posse. O novo presidente padecia de esclerose, levando-o a alternar momentos de lucidez com outros de loucura. Com o chefe do Executivo constantemente sem capacidade de tomar decisões, o poder acabou delegado a seu ministro da Viação, Afrânio de Melo Franco. O período ficou conhecido na época como “regência republicana”.

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Delfim Moreira, presidente de 1918 a 1919 (Crédito: Presidência da República)

Em 1969, durante a ditadura militar, um derrame do presidente Artur da Costa e Silva também transferiu o poder a outrém –no caso uma junta militar, formada pelos ministros do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, que ficou no poder até a escolha de seu sucessor, Emílio Garrastazu Médici.

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