A História Como Ela Foi https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br passagens marcantes e curiosidades do Brasil e do mundo Sat, 14 Jul 2018 05:00:55 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Único critério possível para escolher entre França e Croácia é, claro, histórico em relação aos interesses brasileiros https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2018/07/14/unico-criterio-possivel-para-escolher-entre-franca-e-croacia-e-claro-historico-em-relacao-aos-interesses-brasileiros/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2018/07/14/unico-criterio-possivel-para-escolher-entre-franca-e-croacia-e-claro-historico-em-relacao-aos-interesses-brasileiros/#respond Sat, 14 Jul 2018 05:00:55 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/5c33d4de659b0c81fd3576b3a57b9b5b7fc4053a3ece8810efd5a78439cfb220_5b486838a706f-320x213.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=896 Como se comportar neste domingo? Torcer para a zebra croata e ver o circo das Copas pegar fogo? Ou para a França, respeitando tradições e evitando que arrivistas banalizem a taça?

Apressados defenderão que se torça para o melhor futebol.

Exagerados evocarão simpatias e antipatias pelas nações, percursos históricos, estilos de mandatários, virtudes gastronômicas, qualidade das praias e estética de hinos ou bandeiras nacionais. Mas o que isso tudo tem a ver com uma final de Copa do Mundo?

Só há um critério possível ao espectador brasileiro patriota: o histórico dos dois países finalistas em relação aos nossos próprios interesses nacionais. Qual país é menos motivo de constrangimento para o Brasil do ponto de vista, por exemplo, bélico?

Sobre a Croácia, há pouco a dizer. Tendo se declarado independente apenas em 1991, a nação eslava tem tão poucos elos geopolíticos com o Brasil que os principais lances da relação incluem encontros, este ano, da presidente croata com Geraldo Alckmin e Paulo Skaf.

Não há registros de incidentes diplomáticos ou militares graves.

A decisão sobre a torcida recai, portanto, sobre nossos séculos de relação com o Estado francês.

Aí o jogo esquenta. Quando ainda não éramos um país, a França tentou tomar nosso território colonial em várias oportunidades, de São Luís ao Rio.

Para o lamento dos que fantasiam com uma Paris n’América e para alegria dos que imaginam um passado à la Indochina, os franceses foram repelidos pelos portugueses.

Aninharam-se, porém, como nossos vizinhos, formando a Guiana Francesa.

De lá, entre o fim do século 19 e o começo do 20, estimularam separatismos no atual Amapá e chegaram a invadi-lo em 1895.

Sob o custo de vidas militares e civis, mantivemos nossa integridade.

Vai, Croácia?

Calma. Depois disso, a paz franco-brasileira imperou.

Evitamos derramar sangue em 1961, quando não foi adiante suposto plano de Jânio Quadros de anexar a Guiana, ou em 1963, quando uma tal Guerra da Lagosta apenas mobilizou navios de guerra dos dois lados nos mares do Nordeste.

É falso que no meio dessa crise o presidente Charles de Gaulle tenha dito que o Brasil não é um país sério.

Se há dúvida de que o saldo da relação é benéfico para nós, o desempate vem do ataque de Napoleão, que ao mandar para cá, fugida, a corte de dom João 6º, lançou involuntariamente a semente da independência brasileira.

José Bonifácio fecha com Mbappé.


Estou produzindo uma série de podcasts sobre a história dos presidentes brasileiros, o Presidente da Semana. O programa em áudio contará em ordem cronológica a história dos presidentes brasileiros até o eleito ou a eleita em outubro deste ano. Ouve lá!

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Já ouviu a série de podcasts Presidente da Semana? https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2018/05/26/ja-ouviu-a-serie-de-podcasts-presidente-da-semana/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2018/05/26/ja-ouviu-a-serie-de-podcasts-presidente-da-semana/#respond Sat, 26 May 2018 22:53:50 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/AHi_j0250-320x213.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=893 Estou devendo uma satisfação sobre o reduzido ritmo de posts aos leitores que aparecem por aqui.

Mas peço compreensão, fiel leitor!

Se o blog tem sido escasso em atualizações, o espírito da História Como Ela Foi aparece com fartura em outra paragem.

Tenho produzido desde abril deste ano uma série de podcasts sobre a história dos presidentes brasileiros, o Presidente da Semana.

O programa em áudio contará em ordem cronológica a história dos presidentes brasileiros até o eleito ou a eleita em outubro deste ano.

Você pode ouvir todos os episódios disponíveis aqui.

Para quem lembra, comecei a experimentar com o formato em áudio no ano passado, com os podcasts A História Como Ela foi (todos disponíveis aqui).

Aqueles três “pilotos” de 2017 preparam as bases para a série presidencial de agora.

A questão é que o Presidente da Semana, como deixa claro o nome, é semanal. E além de produzi-lo, faço a pesquisa, apresentação e publicação dos podcasts.

Isso tudo, somado ao trabalho diário na editoria de Poder da Folha em ano eleitoral, me tirou o tempo necessário para produzir conteúdo exclusivo para o blog.

Afinal, o tempo é inelástico e dormir ainda continuar a ser uma exigência física.

O Presidente da Semana vai até o fim de outubro de 2018. Espero voltar a contar boas histórias por aqui com mais frequência depois disso!

 

 

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Lula é o primeiro presidente da história do Brasil preso após condenação penal https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2018/04/06/lula-e-o-primeiro-presidente-da-historia-do-brasil-preso-apos-condenacao-penal/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2018/04/06/lula-e-o-primeiro-presidente-da-historia-do-brasil-preso-apos-condenacao-penal/#respond Fri, 06 Apr 2018 11:05:17 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2018/04/menor-320x213.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=879 Luiz Inácio Lula da Silva, 72, é a primeira pessoa a ocupar a cadeira de presidente da República a ser presa após ser condenado na esfera penal.

Na história republicana, só tiveram a cadeia como destino mandatários ou ex-mandatários suspeitos ou acusados de crimes políticos, em meio a crises e golpes.

O próprio Lula tem outra prisão, em 1980, em seu histórico, mas que não conta no critério porque 1) embora popular líder sindical, ele ainda estava a muitos anos de ter em sua biografia a faixa presidencial; e 2) o encarceramento ocorreu sob a ditadura militar, quando inexistia no país Estado de direito –o jovem sindicalista foi tirado de casa sob acusação de “incitação à desordem”, chegou a ser condenado na Justiça Militar e o processo acabou anulado. Um juízo político, portanto.

O caso que mais se aproxima do caso da atual situação Lula, com algum tipo de tramitação na esfera judicial, ocorreu há quase 96 anos.

Em julho de 1922, foi preso o marechal Hermes da Fonseca, que chefiara o Poder Executivo federal de 1910 a 1914 –cerca de sete anos e meio após deixar a cadeira presidencial, intervalo semelhante ao do petista.

Então presidente do Clube Militar, Hermes teve a prisão decretada pelo próprio presidente Epitácio Pessoa, após contestar a repressão do governo contra grupos insatisfeitos com a eleição de Artur Bernardes para o Palácio do Catete.

Após sofrer um infarto, o ex-presidente foi liberado, voltando a ser preso dias depois, com a revolta no Forte de Copacabana. Com o tenentismo em seu pé, Epitácio decretou estado de sítio.

Hermes seria libertado após um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal em seu favor em janeiro de 1923. Doente, morreria em setembro daquele ano.

A defesa argumentava que o ex-presidente sofria constrangimento ilegal, pois estava preso sem culpa formada e com o processo irregularmente na esfera militar quando o caso era de crime político, sujeito à jurisdição civil.

Mas se também teve processo judicial, o caso Hermes foi essencialmente político, além de reunir as excentricidades de um Brasil de instituições consideravelmente mais fracas que as de hoje.

Eram os tempos da república oligárquica do café com leite, que vetava o voto secreto, dos numerosos analfabetos e até dos “mendigos”, conforme grafava a Constituição da época.

MAIS PRISÕES

As demais prisões de mandatários brasileiros ocorreram sob ainda mais arbítrio.

Com direitos políticos cassados pela ditadura iniciada em 1964, Juscelino Kubitschek foi aprisionado em um quartel após a edição do AI-5, em 1968, que endureceu o regime. Em seguida, passou um mês em prisão domiciliar.

Jânio Quadros foi outro detido naquele ano, ainda antes do AI-5, por ter feito críticas ao regime militar. Por ordem do governo, ficou temporariamente “confinado” a Corumbá, que hoje integra Mato Grosso do Sul. Ele era natural de Campo Grande.

A Era Vargas coleciona dois ex-presidentes presos. A primeira vítima foi Washington Luís, que, deposto pelo levante liderado por Getúlio Vargas em 1930, foi preso e partiu para o exílio.

Artur Bernardes perdeu a liberdades duas vezes. Primeiro, em 1932, ao apoiar a Revolução Constitucionalista. Depois, em 1939, após Getúlio decretar o Estado Novo.

Já Café Filho (1954-1955) chegou a ficar mantido incomunicável em seu apartamento, guardado pelo Exército, antes de ter seu impedimento votado pelo Congresso durante a crise que precedeu a posse de JK.

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Passado do Exército recomenda cautela a quem lhes dá força no presente https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2018/03/05/passado-do-exercito-recomenda-cautela-a-quem-lhes-da-forca-no-presente/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2018/03/05/passado-do-exercito-recomenda-cautela-a-quem-lhes-da-forca-no-presente/#respond Mon, 05 Mar 2018 09:00:37 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2018/03/15198617415a973fed0726e_1519861741_3x2_lg-320x213.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=856 Uma cerimônia em Brasília na quarta (28) ajudou a juntar pontos do passado e do presente das Forças Armadas.

Cercado de amigos oficiais, o general Antonio Hamilton Mourão entrou para a reserva e, em discurso, elogiou o coronel Carlos Brilhante Ustra, que chefiou o DOI-Codi paulista, um dos principais centros de repressão e tortura da ditadura militar.

Em entrevista, Mourão incluiu Michel Temer entre os que deveriam ser expurgados da vida pública. Disse que trabalhará pela eleição de Jair Bolsonaro, outro saudoso de Ustra e da ditadura. À piauí prometeu ainda afinar uma frente de candidatos militares pelo país.

General Antonio Hamilton Mourão se emociona durante sua cerimônia de despedida do Exército – Pedro Ladeira/Folhapress

Na ativa, quando era proibido de fazê-lo, Mourão já atacara Temer, Dilma e sugerira uma intervenção militar. Chegou a ser transferido de função, mas pôde aguardar a aposentadoria sem maiores contratempos, ganhando popularidade entre os entusiastas do militarismo.

Mais sintomática do ponto de vista histórico foi a declaração de Mourão sobre a intervenção militar no Rio. Trata-se de algo “meia-sola”, disse.

O general buscou no século 19 o exemplo das intervenções imperiais nas províncias. Evocou o duque de Caxias, que acumulava nesses casos não só o poder militar, mas político.

Presente na despedida, o comandante do Exército, general Eduardo Villas-Bôas, saudou no Twitter a liderança e a disciplina intelectual do amigo.

O mesmo Villas-Bôas que, prolífico em manifestações públicas, citou em 2017 o americano Samuel Huntington, que inspirava os militares durante a ditadura: “A lealdade e a obediência são as mais altas virtudes militares; mas quais serão os limites da obediência?”

Sem um colchão de votos diretos e coberto por apenas 6% de popularidade, Temer se cercou de militares como nenhum outro presidente no passado recente.

Sérgio Etchegoyen, do Gabinete de Segurança Institucional, Joaquim Silva e Luna, ministro interino da Defesa, e Walter Braga Netto, interventor no Rio, são apenas os principais generais alçados ao primeiro escalão do temerismo.

A exaltação das intervenções de Caxias, da ditadura e o questionamento da obediência entre generais mostram que continua popular uma espécie de mito fundador dos militares: a ideia de que os formados na caserna são mais éticos e preparados que os civis. E, portanto, mais aptos a guiar os destinos nacionais. (já falei mais a respeito aqui)

O argumento vingou –ou tentou vingar– na queda da monarquia, no tenentismo, na ascensão, renúncia e suicídio de Getúlio Vargas, nos anos JK, na saída de Jânio Quadros e, claro, na ditadura militar.

Na história republicana, o protagonismo dos quartéis só não ensaiou bater à porta dos brasileiros de forma significativa nas décadas de 1900, 1990 e 2000. A ver se poderemos incluir os anos 2010 na lista.

Os interessados em ver o Exército no centro da arena têm em 2018 oportunidade de ganhar espaços. Se a intervenção no Rio der certo, por que não um militar na Saúde, nos Transportes, na Petrobras?

Nem é preciso repetir um golpe à moda antiga para que o popular e minoritário contingente militar da sociedade aproveite o empoderamento cedido pelos civis para almejar funções menos operacionais. Já almejaram e conseguiram antes.

]]> 0 Aos interessados em 2018, convém levar em conta a pouco conhecida maldição presidencial https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2018/01/25/aos-interessados-em-2018-convem-levar-em-conta-a-pouco-conhecida-maldicao-presidencial/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2018/01/25/aos-interessados-em-2018-convem-levar-em-conta-a-pouco-conhecida-maldicao-presidencial/#respond Thu, 25 Jan 2018 04:03:29 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/8dc95904ee25edb3121a15c2fde031fba7f688710fdbe9f7b2a6e3c2c0ceb47d_5a26dcdd1c3f8-180x120.jpeg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=814 A chance considerável de Lula ser preso após ser condenado em segunda instância inclui o petista no rol dos presidentes brasileiros com vidas marcadas por infortúnios.

Olhando em retrospecto, a maioria daqueles –e daquela– que chegaram ao cargo público máximo do país acabou, uma hora ou outra, dando-se mal.

A frequência é tamanha que cabe sugerir a existência de uma maldição dos presidentes, ideia que certamente só não encontra maior eco por ser pura ficção e carecer de qualquer rigor científico. (Não me esforçarei aqui para convencer aqueles que, de forma muito compreensível, repudiam minha análise fantasiosa e sobrenatural dos fatos)

Lógica à parte, vamos aos elementos que dão força à tese de que maus ventos rondam a chefia do Poder Executivo federal.

Com seu dramático suicídio, Getúlio Vargas é o exemplo máximo deste mal.

Depois dele, tivemos os problemas de saúde e o afastamento de Café Filho, a renúncia de Jânio Quadros e o golpe que derrubou e exilou João Goulart.

JK, que parecia que sairia incólume após benquista presidência, acabou tendo o cargo de senador cassado pela ditadura militar (bom texto a respeito aqui). Foi pressionado a se exilar e, de volta, teve a vida devassada por investigações que em nada dariam. Como se não bastasse, morreu em um acidente de carro em 1976.

A SINA DOS ELEITOS

De Getúlio para cá, entre os eleitos pelo voto popular, só se salvaram de derrubadas, punições judiciais e outros contratempos Eurico Gaspar Dutra e –até agora– Fernando Henrique Cardoso.

Além dos já citados, encontraram maus destinos Collor e Dilma, derrubados pelo impeachment.

Os que chegaram ao poder sem ter sido eleitos diretamente para o cargo tiveram mais sorte, casos de Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo, que apesar de tudo que se deu em seus governos, concluíram suas presidências e não foram importunados posteriormente nem por clamores político-jurídicos nem por mortes terríveis.

Também não enfrentaram a aparente sina presidencial os inicialmente vices Itamar Franco e –até agora– José Sarney e Michel Temer.

Mas para mostrar que a maldição parece não poupar os indiretos, urge lembrar de Castelo Branco, morto em acidente aéreo após deixar a presidência; Costa e Silva, vítima de derrame cerebral que o tirou do cargo e o matou pouco depois; e Tancredo, que nem conseguiu tomar posse.

VELHA ESPERANÇA?

Nosso recorte pós-getulista já indica números suficientemente alarmantes para os interessados em registrar candidatura em 2018.

Dos 19 citados, 11 tiveram destinos nefastos e 8 deles escaparam.

Os negacionistas da tese do cargo amaldiçoado talvez mirem a República Velha, apostando que os tempos oligárquicos protegeriam mais nossos mandatários.

Enganam-se.

De 13 da época, só 3, bem ou mal, foram poupados: Prudente de Morais, Campos Sales e Venceslau Brás.

Primeiro presidente, Deodoro da Fonseca foi forçado a renunciar após tentar um autogolpe, morrendo menos de um ano depois.

Após uma tumultuada presidência, seu sucessor, Floriano Peixoto, com saúde bastante debilitada, também morreu nos meses que se seguiram a sua saída do cargo, com apenas 56 anos.

Rodrigues Alves foi vitimado pela gripe espanhola antes de assumir seu segundo mandato presidencial.

Afonso Pena padeceu de uma pneumonia fatal durante o mandato.

Delfim Moreira alternava momentos de lucidez com insânia, pouco governando na prática. Foi outro a morrer menos de um ano após deixar a presidência.

Hermes da Fonseca passou meses na cadeia, já ex-presidente, após se envolver na revolta tenentista. Solto, morreria naquele mesmo 1923.

A sorte também não sorriu para Washington Luís, preso e exilado pelo movimento de 1930; Artur Bernardes, que também seria detido por se opor a Getúlio; Júlio Prestes, eleito e impedido pelos revolucionários de tomar posse; e Epitácio Pessoa, que, ex-presidente, perdeu o mandato de senador pós-1930, desencantou-se com o novo regime, afastou-se da política e morreu com mal de Parkinson e problemas cardíacos.

SALVAM-SE OS REIS?

Voltando atrás mais algumas casas, para o Império, o mau agouro é ainda mais regra.

Dom Pedro 1º foi forçado a abdicar ao trono brasileiro, protagonizou uma guerra civil em Portugal e morreu com 35 anos.

Seu filho, Pedro 2º, foi mais longevo e teve um reinado mais estável, mas acabou por ser derrubado pelos republicanos e banido do país, morrendo no exílio aos 66.

Somados os dois regimes, decerto resta inconclusiva a hipótese de que uma maldição assola nossos líderes.

Os mais racionais se exaltarão, dizendo –com absoluta razão– que a profusão de trajetórias conturbadas se deve mais às personalidades dessas figuras e às estruturas nacionais do que à minha tese mística.

Pode ser, pode ser.

De todo modo, insisto: talvez não tenha sido uma boa ideia construir um país sobre um cemitério indígena.

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Diferentemente do que disse Lula, familiar de juiz não matou Antônio Conselheiro em Canudos https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2018/01/17/ao-contrario-do-que-disse-lula-familiar-de-juiz-nao-matou-antonio-conselheiro-em-canudos/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2018/01/17/ao-contrario-do-que-disse-lula-familiar-de-juiz-nao-matou-antonio-conselheiro-em-canudos/#respond Thu, 18 Jan 2018 00:06:52 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/AHi_j0076-180x119.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=799 Não é verdadeira a declaração de Lula de que um parente do presidente do TRF-4, Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz, matou Antônio Conselheiro, líder da revolta de Canudos, no fim do século 19.

Em ato na terça (16), o petista afirmou: “Esse cidadão é bisneto do general que invadiu Canudos e matou Antônio Conselheiro. Talvez ele ache que eu seja cidadão de Canudos”.

Foram três as incorreções do ex-presidente da República.

Segundo o TRF-4, Flores é na verdade sobrinho trineto de Tomás Thompson Flores.

Ele era coronel, e não general, quando foi morto em combate durante tentativa do Exército de subjugar o arraial baiano.

O militar, que também foi deputado federal no começo da República, foi morto em junho de 1897.

Conselheiro só morreria em setembro daquele ano.

Prisioneiros feitos pelo Exército em Canudos (Flávio de Barros/Arquivo Histórico do Museu da República)

Em “Os Sertões”, obra que tornou célebre o conflito em Canudos, Euclydes da Cunha escreveu sobre o trisavô do juiz: “Era um lutador de primeira ordem. Embora lhe faltassem atributos essenciais de comando e, principalmente, esta serenidade de ânimo, que permite a concepção fria das manobras dentro do afogueamento de um combate –sobravam-lhe coragem a toda a prova e um quase desprezo pelo antagonista por mais temeroso e forte, que o tornavam incomparável na ação”.

Em seguida, Cunha faz o relato que levou à morte do militar, que, impetuoso e descuidado, avançou sobre os inimigos identificado como oficial, tornando-se alvo fácil.

“A sua brigada investiu, batida em cheio pelos fogos diretos do inimigo entrincheirado; e, quase cem metros da posição primitiva, a vanguarda desenvolveu-se em atiradores. O coronel Flores que, a cavalo, lhe tomara a frente, descavalgou, então, a fim de pessoalmente ordenar a linha de fogo. Por um requinte dispensável, de bravura, não arrancara dos punhos os galões que o tornavam alvo predileto dos jagunços. Ao reatar-se, logo depois, a avançada, baqueou, ferido em pleno peito, morto.”

Tendo à frente Conselheiro e seu rígido messianismo católico, o movimento de Canudos ficou famoso não apenas graças a Euclydes da Cunha, mas pela façanha dos revoltosos miseráveis de rechaçar seguidas ofensivas do Exército brasileiro.

A então jovem República ganhou a opinião pública ao vender Conselheiro e seus seguidores como fanáticos ligados a um plano para restaurar a monarquia.

O corpo exumado de Antônio Conselheiro (Flávio de Barros/Arquivo Histórico do Museu da República)

O experimento comunal de Canudos, que atraiu sertanejos empobrecidos da região, e a repressão dele pelos militares fez com que, décadas depois, o líder da revolta fosse resgatado como ícone na esquerda brasileira.

AVÔ NO SUPREMO

Além de parente do coronel de trágico fim, o presidente do TRF-4 é neto do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Carlos Thompson Flores.

Nomeado para a corte pelo presidente Costa e Silva, segundo militar a comandar o país sob a ditadura militar, o ministro Flores guarda em sua biografia críticas ao regime.

Em 1977, ano em que assumiu a presidência do STF, ele defendeu o fim das restrições contidas nos atos institucionais. Voltou ao tema no ano seguinte, quando disse esperar para breve o fim do AI-5.

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As histórias que merecerão ser lembradas em 2018 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/12/21/as-historias-que-merecerao-ser-lembradas-em-2018/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/12/21/as-historias-que-merecerao-ser-lembradas-em-2018/#respond Fri, 22 Dec 2017 01:30:18 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2017/12/15131692845a3121846fde9_1513169284_3x2_md-180x120.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=777 Em 2017, o cardápio deste blog incluiu temas inescapáveis, como os centenários da Revolução Russa (com destaque para o violentíssimo assassinato da família Romanov) e da entrada do Brasil na 1ª Guerra Mundial.

Mas também lembrou de episódios mais obscuros, como a vez em que o Brasil demorou seis meses para perceber que tinha sido invadido pela Inglaterra ou a perseguição de cristãos no Japão do século 17.

A história mundial foi foco dos posts sobre os fantasmas trazidos para ingleses e franceses com o filme “Dunkirk” e sobre os tempos mais moleques em que os líderes mundiais eram menos polêmicos e ranzinzas e mais festivos.

Já a história brasileira apareceu nos textos sobre os 53 anos do golpe militar de 1964, o histórico de antecipação de eleições presidenciais e a memória de nossos ex-presidentes que já tiveram problemas na Justiça.

PODCAST

Gostei de escrever todas essas histórias. Mas a maior razão de orgulho para o blog neste ano foi a estreia da “História Como Ela Foi” em podcast.

Gravei três episódios até aqui.

Teve aquele em que lembrei dos podres dos presidentes dos EUA.

Outro sobre os 80 anos do Estado Novo, a ditadura de Getúlio Vargas.

E mais um tentando responder uma questão: por que a miscigenação foi menor nos EUA que no Brasil?

Dá para ouvir (ou voltar a ouvir) os podcasts nos links acima.

Ou, se você preferir, direto em Apple Podcasts (iOS), SoundCloud (iOS e Android), TuneIn (iOS e Android) e Stitcher (iOS e Android).

E AGORA, 2018?

Como a especialidade do blog é o passado, e não o futuro, fica difícil prever quais serão os temas que aparecerão por aqui no ano que começa logo mais.

Mas o brainstorm pode começar pela lembrança dos principais aniversários de 2018.

O ano que vem terá alguns centenários.

1918 foi o ano em que enfim acabou a 1ª Guerra Mundial, que traumatizou toda uma geração e, com a humilhação imposta pelos aliados anglofranceses à Alemanha, lançou as sementes da 2ª Guerra, que começaria em 1939.

Ilustração mostra assinatura do armistício de 1918, que encerrou Primeira Guerra

Também foi o ano em que eclodiu a epidemia de gripe espanhola, considerada a mais grave da história da humanidade.

No Brasil, a doença matou até o presidente eleito da época, Rodrigues Alves.

Ironicamente, o ano também marca os aniversários de cem anos de João Goulart, presidente civil deposto pelos militares em 1964, e João Baptista Figueiredo, o último general-presidente da ditadura.

Para os entusiastas de passados mais distantes, haverá o bicentenário de Karl Marx, que, se estivesse vivo (rs), faria aniversário em 5 de maio.

Os 200 anos do patriarca comunista promete movimentar redes sociais e grupos de WhatsApp.

Se estivessem vivos, Stanley Kubrick faria 90 anos em julho e Michael Jackson, 60 em agosto.

No mesmo mês de Michael, Madonna, que viva está, completa os mesmos 60 anos.

Imortal, Mickey Mouse fará 90 anos em 2018.

Cartaz de “Steamboat Willie”, estreia de Mickey Mouse

Outras datas cheias para se ter em mente: os 80 anos do início da ditadura de Francisco Franco na Espanha e os 70 anos da proclamação do Estado de Israel.

No Brasil, a atual Constituição completará 30 anos em 5 de outubro.

Ulysses Guimarães segura exemplar da Constituição de 1988

Em nosso instável país, já é a terceira Carta mais duradoura. Só perde para as de 1891 (43 anos) e a de 1824 (67 anos).

E fará 25 anos que os brasileiros rejeitaram o parlamentarismo e a monarquia em um plebiscito, optando por manter o país uma república presidencialista –a mudança para o parlamentarismo continua em conversas políticas até hoje.

Tucanos celebrarão.

O partido, hoje em crise, também fará 30 anos.

E se completarão 20 anos da reeleição de Fernando Henrique Cardoso, primeiro presidente reeleito e único membro da sigla a ocupar a Presidência até hoje.

O ANO QUE NÃO TERMINOU

Dá para dizer sem medo de errar que o grande aniversário mesmo em 2018 será um cinquentenário.

No caso, o do ano de 1968.

O ano teve convulsões e crises no Brasil e no mundo.

Para entendê-lo, vale ler o livro de Zuenir Ventura, “1968 – O ano que não terminou”.

No mundo, o ano começou com a Tchecoslováquia comunista achando que podia fazer reformas liberais, em janeiro.

Foi a Primavera de Praga.

Cena da Primavera de Praga

Os soviéticos, que mandavam nos países comunistas, não gostaram e invadiram o país em agosto do mesmo ano.

Também no início daquele 1968, vietnamitas do norte lançam a ofensiva do Tet, que embora tenha sido barrada pelos EUA e seus aliados no sul, expõe ao mundo os horrores da guerra no sudeste asiático e contribui para virar a aumentar a oposição da opinião pública americana contra o conflito.

Em março daquele ano, tropas americanas mataram centenas de civis, incluindo mulheres e crianças, no massacre de My Lai.

Ainda nos EUA, dois assassinatos, em abril e junho, chocaram o país: Martin Luther King, líder da luta pelos direitos civis dos negros, e Robert Kennedy, então presidenciável e irmão do presidente também assassinado John Kennedy.

O grande símbolo daquele ano de crises foi o maio de 1968 francês, no qual estudantes se rebelaram contra o governo e paralisaram Paris e a França.

Grafite na França com a frase “É proibido proibir”

O Brasil não ficou alheio aos ventos de mudança.

Na Passeata dos Cem Mil, em junho, estudantes e políticos de oposição ousaram desafiar o governo militar e foram às ruas no Rio para pedir mais liberdades.

Para fazer frente às contestações, a ditadura dobra a aposta e enterra o Estado de direito com o Ato Institucional nº 5, de dezembro, em que suprime liberdades individuais, fecha o Congresso e cassa mandatos parlamentares.

A norma, que representou o endurecimento do regime, existiria por dez anos.

Naquele mesmo mês, estrearia nos cinemas o filme “O Bandido da Luz Vermelha”, de Rogério Sganzerla, ícone do cinema nacional.

Entre tantos memoráveis, vale lembrar de um diálogo do filme:

“– Senhor, o que você acha da miséria?

– Que miséria, meu filho? Um país sem miséria é um país sem folclore! E um país sem folclore… O que é que nós podemos mostrar pro turista?”

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Presidentes dos EUA tiveram de escravos a fazenda reformada por amigos https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/12/01/presidentes-dos-eua-tiveram-de-escravos-a-fazenda-reformada-por-amigos/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/12/01/presidentes-dos-eua-tiveram-de-escravos-a-fazenda-reformada-por-amigos/#respond Fri, 01 Dec 2017 18:18:57 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2017/12/Junius_Brutus_Stearns_-_George_Washington_as_Farmer_at_Mount_Vernon-180x124.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=766 A leitura recente de um livro sobre os capítulos podres das biografias dos presidentes dos Estados Unidos foi a inspiração do 3º episódio do podcast da História Como Ela Foi.

A imagem controversa do atual presidente americano, Donald Trump, talvez induza o leitor a ter o cargo em pouco estima hoje.

No entanto, a relação da população dos EUA com a instituição é historicamente de admiração, seja pela democracia longeva e ininterrupta ou pela presença no rol presidencial de figuras alçadas a heróis da pátria, como George Washington (na imagem acima), Thomas Jefferson, Abraham Lincoln e Franklin Roosevelt.

Mas mesmo personagens estelares guardam episódios obscuros, como é o caso dos presidentes com histórico de apoio a escravidão e ao racismo ou de envolvimento ou omissão em escândalos políticos –teve até um que teve uma fazenda reformada por empresários amigos.

Quer saber mais? Clica abaixo.

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Já ouviu os outros dois episódios do podcast da História Como Ela Foi?

Dá para escutá-los abaixo, ou em seu aplicativo de preferência.

 

 

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Estado Novo, o lado mais sombrio e esquecido do legado de Getúlio Vargas https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/11/14/estado-novo-o-lado-mais-sombrio-e-esquecido-do-legado-de-getulio-vargas/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/11/14/estado-novo-o-lado-mais-sombrio-e-esquecido-do-legado-de-getulio-vargas/#respond Tue, 14 Nov 2017 14:59:20 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2017/11/Propaganda_do_Estado_Novo_Brasil-119x180.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=760 O homem que por mais tempo presidiu o Brasil entrou para a história por promover a estruturação do Estado brasileiro e investir na industrialização do país.

Graças às legislações que criou na área social, ganhou entre apoiadores o apelido de “pai dos pobres”.

Não falta quem veja, à esquerda ou à direita, um saldo positivo do legado de Getúlio Vargas.

Mas o segundo episódio em áudio da História Como Ela Foi se dedicará a entender o lado negativo da equação getulista: a ditadura do Estado Novo, cujo início completou 80 anos no último dia 10 de novembro.

É só clicar abaixo.

Também dá para escutar o podcast direto no aplicativo do SoundCloud, no aplicativo de podcast da Apple, no Stitcher e no TuneIn.

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Há cem anos, Brasil enfim entrava na Primeira Guerra Mundial https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/11/08/ha-cem-anos-brasil-declarava-guerra-a-alemanha-na-primeira-guerra-mundial/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/11/08/ha-cem-anos-brasil-declarava-guerra-a-alemanha-na-primeira-guerra-mundial/#respond Wed, 08 Nov 2017 20:47:38 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2017/11/R039-f01-180x108.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=736 Países que sentiram na carne a barbárie da Primeira Guerra Mundial, França e Reino Unido (e algumas de suas ex-colônias, como Canadá e Austrália) se preparam para um dia solene de seus calendários nacionais: 11 de novembro, aniversário do fim do primeiro conflito global do século 20.

O armistício completa 99 anos nesta sexta-feira.

Na França, é tradicionalmente lembrado com um feriado e cerimônias oficiais. Britânicos, canadenses, australianos e neozelandeses usam em massa, nessa época, flores vermelhas (poppies) no peito, honrando os mortos em guerras.

Neste ano, mais especificamente no último dia 26 de outubro, completaram-se 100 anos que o Brasil declarou guerra à Alemanha em 1917, entrando enfim no conflito mundial que começara em 1914 e acabaria em 1918.

Apesar de ser uma data mais cheia que a celebração do armísticio, o centenário da estreia brasileira na Primeira Guerra foi largamente ignorado.

Em grande medida, pelo fato de a participação do Brasil no conflito ter sido discretíssima.

FIM DA NEUTRALIDADE, AINDA QUE TARDIO

Durante a maior parte da guerra, o país optou por se manter neutro no confronto que opôs as lideranças encabeçadas de um lado por Reino Unido e França e, do outro, por Alemanha e Império Austro-Húngaro.

Lobbies internos pressionavam por apoio a um dos lados, fossem entre os imigrantes alemães concentrados no Sul ou a elite intelectual francófila da época –sendo o segundo grupo de pressão muito maior e mais influente.

Presidente Wenceslau Braz assina declaração de guerra à Alemanha

Em outubro de 1917, diante de mais um torpedeamento de navio brasileiro pela Alemanha, enfim veio o decreto assinado pelo presidente Wenceslau Braz, um daqueles mandatários da República Velha que a maioria de nós tem dificuldades de lembrar: “Fica reconhecido e proclamado o estado de guerra iniciado pelo império alemão contra o Brasil”.

Primeira página do jornal “O Estado de S. Paulo” com a manchete “O Brasil na guerra”

A declaração de guerra foi comemorada por Ruy Barbosa, então senador opositor, conforme registrou à época “O Estado de S. Paulo”: “Todos os povos civilizados estavam no dever de dar o seu concurso de sangue a esta tremenda carnificina criada pela Alemanha. Ao darmos este passo, o mais grave que temos dado, não se trata de irmos defender na Europa os interesses dos aliados –o Brasil vai defender-se a si mesmo, vai defender a sua existência moral e a sua existência política, vai defender a estabilidade de seu território”.

ATAQUE AOS GOLFINHOS

O concurso de sangue brasileiro se mostraria diminuto.

Um grupo de oficiais foi enviado para a França e uma missão médica brasileira foi instalada em Paris. Treze pilotos foram emprestados à Força Aérea Britânica.

A maior, embora pequena, contribuição foi da Marinha, que enviou uma divisão naval para patrulhar a costa da África.

Tendo zarpado apenas em julho de 1918, a força sofreu baixas em uma escala africana devido à gripe espanhola e chegou à Europa um dia antes do fim da guerra. Ficou marcada pelo episódio em que confundiu golfinhos com um submarino alemão, levando a um massacre de cetáceos.

O historiador militar Carlos Daróz registra em seu “O Brasil na Primeira Guerra Mundial: a longa travessia” que quase 200 brasileiros morreram nos navios e campos da batalha da Grande Guerra, “a maioria vitimada pela pandemia de gripe espanhola e outros em decorrência de acidentes durante as operações”.

Outros tantos lutaram como voluntários pelas nações em que nasceram, caso de muitos imigrantes italianos e alemães –ou dos príncipes exilados dom Luís e dom Antônio de Orléans e Bragança, filhos da princesa Isabel, que lutaram do lado britânico.

EFEITOS ECONÔMICOS

Se não houve muito sangue brasileiro derramado, os principais efeitos da Primeira Guerra no país foram políticos e econômicos.

O país, à época agrário e iletrado, sofreu com a queda da venda de café e com a dificuldade de comprar bens industrializados da Europa. O foco do país alterou-se para os Estados Unidos, não apenas econômica, mas diplomaticamente.

O morticínio da Grande Guerra trouxe ainda um desencanto da elite pensante do país sobre a Europa, tema sobre o qual já tratei nessa entrevista publicada em 2014 com o historiador francês Olivier Compagnon, autor do livro “Adeus à Europa”.

A atuação modesta trouxe, porém, alguns frutos ao país, então extremamente periférico, em termos de estatura diplomática. Como país beligerante, o Brasil pôde participar da Conferência de Paz de Paris de 1919, onde conseguiu indenizações e a compra a preço simbólico de navios alemães apreendidos.

Representantes internacionais durante a Conferência de Paris; o 2º da direita para a esquerda, sentado, é o presidente eleito brasileiro Epitácio Pessoa; o presidente americano Woodrow Wilson é o 8º da direita para a esquerda, de pé

Já ouviu o podcast da História Como Ela Foi? Está disponível no aplicativo de podcast do iPhone, no SoundCloud, no Stitcher e no TuneIn.

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