A História Como Ela Foi https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br passagens marcantes e curiosidades do Brasil e do mundo Sat, 14 Jul 2018 05:00:55 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Único critério possível para escolher entre França e Croácia é, claro, histórico em relação aos interesses brasileiros https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2018/07/14/unico-criterio-possivel-para-escolher-entre-franca-e-croacia-e-claro-historico-em-relacao-aos-interesses-brasileiros/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2018/07/14/unico-criterio-possivel-para-escolher-entre-franca-e-croacia-e-claro-historico-em-relacao-aos-interesses-brasileiros/#respond Sat, 14 Jul 2018 05:00:55 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/5c33d4de659b0c81fd3576b3a57b9b5b7fc4053a3ece8810efd5a78439cfb220_5b486838a706f-320x213.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=896 Como se comportar neste domingo? Torcer para a zebra croata e ver o circo das Copas pegar fogo? Ou para a França, respeitando tradições e evitando que arrivistas banalizem a taça?

Apressados defenderão que se torça para o melhor futebol.

Exagerados evocarão simpatias e antipatias pelas nações, percursos históricos, estilos de mandatários, virtudes gastronômicas, qualidade das praias e estética de hinos ou bandeiras nacionais. Mas o que isso tudo tem a ver com uma final de Copa do Mundo?

Só há um critério possível ao espectador brasileiro patriota: o histórico dos dois países finalistas em relação aos nossos próprios interesses nacionais. Qual país é menos motivo de constrangimento para o Brasil do ponto de vista, por exemplo, bélico?

Sobre a Croácia, há pouco a dizer. Tendo se declarado independente apenas em 1991, a nação eslava tem tão poucos elos geopolíticos com o Brasil que os principais lances da relação incluem encontros, este ano, da presidente croata com Geraldo Alckmin e Paulo Skaf.

Não há registros de incidentes diplomáticos ou militares graves.

A decisão sobre a torcida recai, portanto, sobre nossos séculos de relação com o Estado francês.

Aí o jogo esquenta. Quando ainda não éramos um país, a França tentou tomar nosso território colonial em várias oportunidades, de São Luís ao Rio.

Para o lamento dos que fantasiam com uma Paris n’América e para alegria dos que imaginam um passado à la Indochina, os franceses foram repelidos pelos portugueses.

Aninharam-se, porém, como nossos vizinhos, formando a Guiana Francesa.

De lá, entre o fim do século 19 e o começo do 20, estimularam separatismos no atual Amapá e chegaram a invadi-lo em 1895.

Sob o custo de vidas militares e civis, mantivemos nossa integridade.

Vai, Croácia?

Calma. Depois disso, a paz franco-brasileira imperou.

Evitamos derramar sangue em 1961, quando não foi adiante suposto plano de Jânio Quadros de anexar a Guiana, ou em 1963, quando uma tal Guerra da Lagosta apenas mobilizou navios de guerra dos dois lados nos mares do Nordeste.

É falso que no meio dessa crise o presidente Charles de Gaulle tenha dito que o Brasil não é um país sério.

Se há dúvida de que o saldo da relação é benéfico para nós, o desempate vem do ataque de Napoleão, que ao mandar para cá, fugida, a corte de dom João 6º, lançou involuntariamente a semente da independência brasileira.

José Bonifácio fecha com Mbappé.


Estou produzindo uma série de podcasts sobre a história dos presidentes brasileiros, o Presidente da Semana. O programa em áudio contará em ordem cronológica a história dos presidentes brasileiros até o eleito ou a eleita em outubro deste ano. Ouve lá!

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As histórias que merecerão ser lembradas em 2018 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/12/21/as-historias-que-merecerao-ser-lembradas-em-2018/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/12/21/as-historias-que-merecerao-ser-lembradas-em-2018/#respond Fri, 22 Dec 2017 01:30:18 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2017/12/15131692845a3121846fde9_1513169284_3x2_md-180x120.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=777 Em 2017, o cardápio deste blog incluiu temas inescapáveis, como os centenários da Revolução Russa (com destaque para o violentíssimo assassinato da família Romanov) e da entrada do Brasil na 1ª Guerra Mundial.

Mas também lembrou de episódios mais obscuros, como a vez em que o Brasil demorou seis meses para perceber que tinha sido invadido pela Inglaterra ou a perseguição de cristãos no Japão do século 17.

A história mundial foi foco dos posts sobre os fantasmas trazidos para ingleses e franceses com o filme “Dunkirk” e sobre os tempos mais moleques em que os líderes mundiais eram menos polêmicos e ranzinzas e mais festivos.

Já a história brasileira apareceu nos textos sobre os 53 anos do golpe militar de 1964, o histórico de antecipação de eleições presidenciais e a memória de nossos ex-presidentes que já tiveram problemas na Justiça.

PODCAST

Gostei de escrever todas essas histórias. Mas a maior razão de orgulho para o blog neste ano foi a estreia da “História Como Ela Foi” em podcast.

Gravei três episódios até aqui.

Teve aquele em que lembrei dos podres dos presidentes dos EUA.

Outro sobre os 80 anos do Estado Novo, a ditadura de Getúlio Vargas.

E mais um tentando responder uma questão: por que a miscigenação foi menor nos EUA que no Brasil?

Dá para ouvir (ou voltar a ouvir) os podcasts nos links acima.

Ou, se você preferir, direto em Apple Podcasts (iOS), SoundCloud (iOS e Android), TuneIn (iOS e Android) e Stitcher (iOS e Android).

E AGORA, 2018?

Como a especialidade do blog é o passado, e não o futuro, fica difícil prever quais serão os temas que aparecerão por aqui no ano que começa logo mais.

Mas o brainstorm pode começar pela lembrança dos principais aniversários de 2018.

O ano que vem terá alguns centenários.

1918 foi o ano em que enfim acabou a 1ª Guerra Mundial, que traumatizou toda uma geração e, com a humilhação imposta pelos aliados anglofranceses à Alemanha, lançou as sementes da 2ª Guerra, que começaria em 1939.

Ilustração mostra assinatura do armistício de 1918, que encerrou Primeira Guerra

Também foi o ano em que eclodiu a epidemia de gripe espanhola, considerada a mais grave da história da humanidade.

No Brasil, a doença matou até o presidente eleito da época, Rodrigues Alves.

Ironicamente, o ano também marca os aniversários de cem anos de João Goulart, presidente civil deposto pelos militares em 1964, e João Baptista Figueiredo, o último general-presidente da ditadura.

Para os entusiastas de passados mais distantes, haverá o bicentenário de Karl Marx, que, se estivesse vivo (rs), faria aniversário em 5 de maio.

Os 200 anos do patriarca comunista promete movimentar redes sociais e grupos de WhatsApp.

Se estivessem vivos, Stanley Kubrick faria 90 anos em julho e Michael Jackson, 60 em agosto.

No mesmo mês de Michael, Madonna, que viva está, completa os mesmos 60 anos.

Imortal, Mickey Mouse fará 90 anos em 2018.

Cartaz de “Steamboat Willie”, estreia de Mickey Mouse

Outras datas cheias para se ter em mente: os 80 anos do início da ditadura de Francisco Franco na Espanha e os 70 anos da proclamação do Estado de Israel.

No Brasil, a atual Constituição completará 30 anos em 5 de outubro.

Ulysses Guimarães segura exemplar da Constituição de 1988

Em nosso instável país, já é a terceira Carta mais duradoura. Só perde para as de 1891 (43 anos) e a de 1824 (67 anos).

E fará 25 anos que os brasileiros rejeitaram o parlamentarismo e a monarquia em um plebiscito, optando por manter o país uma república presidencialista –a mudança para o parlamentarismo continua em conversas políticas até hoje.

Tucanos celebrarão.

O partido, hoje em crise, também fará 30 anos.

E se completarão 20 anos da reeleição de Fernando Henrique Cardoso, primeiro presidente reeleito e único membro da sigla a ocupar a Presidência até hoje.

O ANO QUE NÃO TERMINOU

Dá para dizer sem medo de errar que o grande aniversário mesmo em 2018 será um cinquentenário.

No caso, o do ano de 1968.

O ano teve convulsões e crises no Brasil e no mundo.

Para entendê-lo, vale ler o livro de Zuenir Ventura, “1968 – O ano que não terminou”.

No mundo, o ano começou com a Tchecoslováquia comunista achando que podia fazer reformas liberais, em janeiro.

Foi a Primavera de Praga.

Cena da Primavera de Praga

Os soviéticos, que mandavam nos países comunistas, não gostaram e invadiram o país em agosto do mesmo ano.

Também no início daquele 1968, vietnamitas do norte lançam a ofensiva do Tet, que embora tenha sido barrada pelos EUA e seus aliados no sul, expõe ao mundo os horrores da guerra no sudeste asiático e contribui para virar a aumentar a oposição da opinião pública americana contra o conflito.

Em março daquele ano, tropas americanas mataram centenas de civis, incluindo mulheres e crianças, no massacre de My Lai.

Ainda nos EUA, dois assassinatos, em abril e junho, chocaram o país: Martin Luther King, líder da luta pelos direitos civis dos negros, e Robert Kennedy, então presidenciável e irmão do presidente também assassinado John Kennedy.

O grande símbolo daquele ano de crises foi o maio de 1968 francês, no qual estudantes se rebelaram contra o governo e paralisaram Paris e a França.

Grafite na França com a frase “É proibido proibir”

O Brasil não ficou alheio aos ventos de mudança.

Na Passeata dos Cem Mil, em junho, estudantes e políticos de oposição ousaram desafiar o governo militar e foram às ruas no Rio para pedir mais liberdades.

Para fazer frente às contestações, a ditadura dobra a aposta e enterra o Estado de direito com o Ato Institucional nº 5, de dezembro, em que suprime liberdades individuais, fecha o Congresso e cassa mandatos parlamentares.

A norma, que representou o endurecimento do regime, existiria por dez anos.

Naquele mesmo mês, estrearia nos cinemas o filme “O Bandido da Luz Vermelha”, de Rogério Sganzerla, ícone do cinema nacional.

Entre tantos memoráveis, vale lembrar de um diálogo do filme:

“– Senhor, o que você acha da miséria?

– Que miséria, meu filho? Um país sem miséria é um país sem folclore! E um país sem folclore… O que é que nós podemos mostrar pro turista?”

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Presidentes dos EUA tiveram de escravos a fazenda reformada por amigos https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/12/01/presidentes-dos-eua-tiveram-de-escravos-a-fazenda-reformada-por-amigos/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/12/01/presidentes-dos-eua-tiveram-de-escravos-a-fazenda-reformada-por-amigos/#respond Fri, 01 Dec 2017 18:18:57 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2017/12/Junius_Brutus_Stearns_-_George_Washington_as_Farmer_at_Mount_Vernon-180x124.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=766 A leitura recente de um livro sobre os capítulos podres das biografias dos presidentes dos Estados Unidos foi a inspiração do 3º episódio do podcast da História Como Ela Foi.

A imagem controversa do atual presidente americano, Donald Trump, talvez induza o leitor a ter o cargo em pouco estima hoje.

No entanto, a relação da população dos EUA com a instituição é historicamente de admiração, seja pela democracia longeva e ininterrupta ou pela presença no rol presidencial de figuras alçadas a heróis da pátria, como George Washington (na imagem acima), Thomas Jefferson, Abraham Lincoln e Franklin Roosevelt.

Mas mesmo personagens estelares guardam episódios obscuros, como é o caso dos presidentes com histórico de apoio a escravidão e ao racismo ou de envolvimento ou omissão em escândalos políticos –teve até um que teve uma fazenda reformada por empresários amigos.

Quer saber mais? Clica abaixo.

Também dá para ouvir o podcast em:

Apple Podcasts (iOS)

SoundCloud (iOS e Android)

TuneIn (iOS e Android)

Stitcher (iOS e Android)

 

Já ouviu os outros dois episódios do podcast da História Como Ela Foi?

Dá para escutá-los abaixo, ou em seu aplicativo de preferência.

 

 

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Por que a miscigenação foi menos comum na colonização dos Estados Unidos? https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/10/30/por-que-a-miscigenacao-foi-menos-comum-na-colonizacao-dos-estados-unidos/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/10/30/por-que-a-miscigenacao-foi-menos-comum-na-colonizacao-dos-estados-unidos/#respond Mon, 30 Oct 2017 17:42:47 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2017/10/1622_massacre_jamestown_de_Bry-180x128.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=717 Por que nos Estados Unidos brancos, índios, negros parecem ter se misturado tão menos do que no Brasil e em outros países da América Latina? O que isso tem a ver com as raízes da colonização da América do Norte?

Estou passando o semestre nos EUA (o que em parte explica minha lamentável escassez de posts, pela qual peço desculpas), tenho estudado mais sobre história americana e as perguntas acima são algumas das que tenho feito por aqui.

Aproveito também para fazer um experimento: um post em áudio. São menos de 15 minutos, é só clicar abaixo.

Caso prefira ouvir pelo aplicativo de podcast da Apple, clique aqui. Também é possível ouvir no Stitcher e no TuneIn.

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Abordagem britânica de ‘Dunkirk’, de Christopher Nolan, melindra franceses https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/08/02/abordagem-britanica-de-dunkirk-de-christopher-nolan-melindra-franceses/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/08/02/abordagem-britanica-de-dunkirk-de-christopher-nolan-melindra-franceses/#respond Wed, 02 Aug 2017 05:00:10 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2017/08/CX154_2707_9-180x120.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=707 Aclamado por seu relato sobre um episódio sombrio da história britânica, “Dunkirk”, de Christopher Nolan, produziu baixas do outro lado do canal da Mancha. O filme feriu alguns brios na França, onde houve incômodo com o papel secundário que o país recebeu na produção americana.

“Por que ‘Dunkirk’ de Nolan é uma aberração histórica”, ataca reportagem da revista “Les Inrockuptibles”.

O jornal “Le Figaro” acusa o filme de passar “deliberadamente à margem da questão histórica”, tratando os militares franceses como “silhuetas furtivas e ridículas”.

A suposta ofensa à honra nacional consiste no fato de o filme não ter explorado o papel da França no resgate da Força Expedicionária Britânica de Dunquerque, no norte francês, em 1940.

O episódio simbolizou a incapacidade de Reino Unido e França fazerem frente ao avanço alemão no início da Segunda Guerra Mundial.

Cercados em poucas semanas de conflito, os britânicos concluíram que era melhor abandonar o continente e defender sua ilha. A virada na França só viria quatro anos depois, com a crucial presença dos Estados Unidos.

No filme, os franceses surgem em quatro momentos fugazes: em uma trincheira que protege a praia onde os ingleses esperam para fugir; quando um grupo do país é barrado ao tentar embarcar; com a revelação de que um soldado da França vestia um uniforme britânico para escapar; e citados por um oficial inglês.

Imagem registra embarque de soldados franceses em Dunquerque

Pode parecer suficiente quando se pensa na escolha de Nolan de se concentrar, sem muito contexto, na tentativa de sobrevivência inglesa.

Mas, em sua bronca com a superprodução, os franceses reclamam de não ter havido menção ao fato de que 40 mil soldados do país defendiam a retaguarda –contra alemães mais numerosos e bem armados– enquanto os britânicos eram evacuados.

Melindram-se ainda por “Dunkirk” ter preferido enfocar o heroísmo dos civis ingleses que ajudaram no resgate, ignorando que parte significativa da frota usada para o transporte era da Marinha francesa, que perdeu três destróieres na empreitada.

Outra ausência que a imprensa do país registra, esta sem tanta ênfase, é a de que cerca de um terço dos soldados salvos eram da França.

O historiador Dominique Lormier, autor de livro sobre a batalha, buscou apaziguar os aliados históricos.

Disse em entrevista que, “embora seja lamentável que o filme não enfatize suficientemente a contribuição dos franceses”, é “honesto” e relata “um ponto de vista anglo-saxão que não tem uma visão panorâmica dos acontecimentos”.

Memorial em homenagem a franceses e aliados mortos na batalha de Dunquerque

O cerne do mal-estar parece estar no fato de “Dunkirk” se passar durante o curto período em que a França de fato lutou na Segunda Guerra.

O país, que partiu para o combate acreditando em suas linhas de defesa, acabaria invadido, humilhado e governado por fantoches que colaboraram com os nazistas.

“Essa é uma questão de extrema delicadeza na França por conta da absoluta inépcia com que o Exército se portou e foi rapidamente desbaratado pelas forças alemãs”, diz o professor de história da USP Everaldo de Oliveira Andrade.

A crítica do jornal “Le Monde” observa que a época do embarque de Dunquerque foi um “raro momento desta guerra que honra o heroísmo do Exército francês”.

A versão francesa da “Slate” foi ainda mais sincera: “Teria sido a oportunidade –perdida– de lembrar aos americanos que os franceses não são em 1940 os famosos rendidos comedores de queijo”.

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Se você não quiser pisar em Jesus, pode ser uma boa ideia evitar o Japão do século 17 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/04/20/se-voce-nao-quiser-pisar-em-jesus-pode-ser-uma-boa-ideia-evitar-o-japao-do-seculo-17/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/04/20/se-voce-nao-quiser-pisar-em-jesus-pode-ser-uma-boa-ideia-evitar-o-japao-do-seculo-17/#respond Thu, 20 Apr 2017 20:26:42 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2017/04/Fumie2-180x134.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=618 Em um país de maioria católica (mesmo que não tão entusiasmada em ir regularmente à missa), um ponto deve ter chocado bastante no filme “Silêncio”, de Martin Scorsese, que está nos cinemas.

Andrew Garfield como padre Rodrigues, em “Silêncio” (Divulgação)

Trata-se do “teste” que obrigava japoneses a pisarem em imagens cristãs, como o rosto de Jesus Cristo ou de Maria, para provarem que não eram adeptos desta religião. Chamavam-se fumi-e (pisar em imagens).

Após ter inicialmente florescido por meio de missionários portugueses no século 16, o cristianismo no Japão passa a ser reprimido com força a partir do século seguinte com a ascensão do xogunato Tokugawa –os xoguns eram lideranças militares responsáveis pelo governo à época, enquanto o imperador detinha papel mais simbólico.

Viam no cristianismo uma influência daninha para a unidade nacional.

Imagem de Jesus Cristo usada na cerimônia do fumi-e, no Japão (Wikimedia Commons)

A repressão aos cristãos (kirishitan, como eram chamados) e aos estrangeiros que propagavam a fé no arquipélago existiu oficialmente até meados do século 19, quando o Japão se abriu para o mundo.

O blog procurou uma especialista no assunto: Renata Cabral Barnabé, doutoranda do Departamento de História Social da USP (Universidade de São Paulo). Leia abaixo a entrevista.


A História Como Ela Foi – Como surgiu o fumi-e?
Renata Cabral Barnabé – O fumi-e surgiu no contexto da perseguição que se iniciou em 1614, com o edito de proibição do cristianismo por Tokugawa Ieyasu, e foi aumentando com o passar dos anos. A prática foi instituída pelo bugyô (magistrado) de Nagasaki, Takenaka Uneme, que assumiu o posto em 1629 –ainda que algumas fontes sugerem que a prática era usada com os cristãos de Nagasaki desde 1626, os documentos oficiais datam a adoção da mesma a partir de 1631. Ele foi sistematizado após 1640 e em 1660 implementado na ilha de Kyûshû –local de maior atividade missionária desde [Francisco] Xavier [pioneiro da Companhia de Jesus e missionário no Oriente] como parte do ritual religioso de ano novo. Aqui, toda a população era obrigada a pisar nas imagens, ainda que não fossem suspeitos.

Essas imagens eram confeccionadas no Japão ou tiradas dos próprios jesuítas? Jesus e Maria eram as principais representações?
As imagens inicialmente eram aquelas recolhidas de cristãos descobertos, encravadas em madeira, bem como mostra o filme. Mas com a sistematização e difusão da prática para outros locais do Japão, os funcionários japoneses tiveram que fazer as suas próprias versões. Germain Felix Meijilan (1785-1831) da Companhia holandesa das Índias Orientais que esteve em Dejima entre 1827-30 relata que os habitantes contavam de um artesão chamado Hagiwara Yûsa que teria produzido 20 fumi-e de metal em 1669 para o bugyô de Nagasaki. Suas imagens eram tão perfeitas que não se via diferença com as peças originais. Isso acabou por lhe custar a vida, pois foi degolado por ordem do xogunato que temia que ele trabalhasse posteriormente para os kirishitan. As imagens eram sim de Jesus e Maria, pois era o elemento comum de todas as comunidades kirishitan, independente da ordem que as tivesse cristianizado inicialmente (mendicantes ou jesuítas).

Havia algum outro tipo de cerimônia além de forçar as pessoas a pisarem em um objeto sagrado?
O sistema de perseguição aos cristãos foi complexo e bem pensado. Havia recompensas aos delatores; sistema dos grupos de cinco (gonin gumi) que responsabilizava cada casa por duas casas a sua direita e duas a sua esquerda e caso alguém fosse descoberto cristão todos do grupo eram penalizados; declarações escritas de que não eram mais cristãos; obrigação de filiação a templos budistas (terauke seido). Mas creio que cerimônia era apenas o fumi-e mesmo, que era usado tanto para descobrir cristãos quanto para evitar recaídas, já que era requerido aos antigos apóstatas que pisassem anualmente nas imagens.

Ilustração feita pelo alemão Philipp Franz von Siebold, que viveu no Japão na década de 1820

A cerimônia existiu até o cristianismo voltar a ser aceito no Japão?
Pelo que temos notícias sim. Meijilan descreve que o fumi-e era sim usado em Nagasaki no período que ele passou por lá.

Ao escolher evangelizar ali, os jesuítas tinham algum interesse especial no Japão ou só fazia parte de uma grande política de espalhar a fé cristã?
As missões foram espalhadas pelo mundo inteiro, mas é claro que elas precisavam ser acompanhadas por algum interesse temporal que as pudesse justificar financeiramente. Por exemplo: no Japão os comerciantes portugueses chegaram antes e, vendo uma ótima oportunidade de comércio, ficaram por ali e os jesuítas os seguiram –se adentrando, posteriormente, no território japonês muito além do que os mercadores lusitanos. A pergunta é um pouco capciosa. Quero dizer, não, os jesuítas poderiam não ter outro interesse que evangelizar um povo que eles viam grande chance de se tornar cristão, mas seus financiadores –os impérios ibéricos– sim, possuíam interesses comerciais no lucrativo comércio da prata japonesa e seda chinesa.

Pelo fato de a perseguição ter ocorrido no contexto do poder central japonês preocupado com os senhores locais convertidos ao cristianismo, ela foi mais política do que religiosa?
O início da perseguição se insere sim no contexto da centralização ou reunificação do poder japonês. Em 1587, Toyotomi Hideyoshi já havia expulsado todos os missionários e proibido que os senhores se convertessem sem uma autorização prévia dele. O fantasma de uma invasão europeia que se apoiaria tanto nos senhores cristãos quanto nos missionários existia desde então. Quando os Tokugawa se estabeleceram no poder quiseram eliminar essa ameaça. A presença dos holandeses, que colocavam uma alternativa ao comércio desempenhado pelos comerciantes portugueses, ajudou para que os Tokugawa se sentissem a vontade para forçar tal proibição, que poderia desagradar muito aos portugueses. Na década de 1630, com a revolta camponesa de Shimabara, o medo do cristianismo aumentou e muito. Isso porque sua ameaça não era apenas de uma invasão dos reinos ibéricos, mas de desobediência civil entre a classe mais baixa e populosa do Japão daquele período. Daí a criação de um sistema de perseguição tão complexo e custoso como o foi e também a política do sakoku (país fechado) que encerrou de vez as relações com Portugal. Assim, pode-se ver que a perseguição é 100% política, ao menos ao meu ver.

Liam Neeson como o padre Ferreira, em “Silêncio” (Divulgação)

O filme aborda isso: em que medida os japoneses compreendiam de fato a doutrina cristã tal qual os europeus? Havia um sincretismo?
Não creio que se possa eliminar o sincretismo totalmente em qualquer que seja o caso, ainda que os missionários, tanto jesuítas quanto mendicantes, tenham se esforçado intensamente por isso. Em que medida aqueles japoneses entendiam a doutrina cristã? É muito difícil de responder. Há comunidades que viveram por décadas junto de missionários europeus e outras que viram um por somente uma semana, foi batizada, ensinada acerca de algumas fórmulas essenciais da fé como batismo, orações principais, confissão e etc. e só. Assim há uma gama muito diferenciada de níveis de conhecimentos. Além disso, eram em geral comunidades de agricultores, com uma cultura oral bastante difundida e, com a perseguição, todos os materiais cristãos, inclusive escritos, foram recolhidos e queimados. Do período da perseguição mais forte temos uma obra de uma dessas comunidades de cristãos escondidos, kakure kirishitan, que foi dada ao padre Petitjean em 1865: Tenchi Hajimari no Koto. A obra mostra um sincretismo incrível, com elementos mágicos nada comuns ao cristianismo católico romano. Ainda assim, é expressão da compreensão daquela comunidade em particular, após mais de dois séculos de perseguição e sem qualquer contato com sacerdotes provindos de reinos cristãos.

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O incrível tempo em que os líderes mundiais divertiam o povo https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/03/17/o-incrivel-tempo-em-que-os-lideres-mundiais-divertiam-o-povo/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/03/17/o-incrivel-tempo-em-que-os-lideres-mundiais-divertiam-o-povo/#respond Fri, 17 Mar 2017 18:08:52 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2017/03/330300_3747550-180x138.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=570 A vitória do premiê conservador moderado Mark Rutte na Holanda acalmou o establishment europeu. Afinal, pelo menos um dos fantasmas da extrema direita no continente foi derrotado, no caso Geert Wilders, conhecido pelas ideias xenófobas, pela islamofobia e pelo cabelo tufado.

Mas o post não é sobre política holandesa, que provavelmente causa sonolência no leitor, ou sobre a ascensão de radicais na Europa.

O caso holandês só serve de exemplo de um drama que vivem os apreciadores do noticiário internacional de hoje: a absoluta ausência de líderes que despertem alegria e divirtam o povo.

No país dos moinhos e do stroopwafel, dois tipos estavam em jogo. Um derrotado que, embora renda manchetes bombásticas, representava risco para a civilização. E um vencedor que, mesmo que intelectualmente coerente, é um figura anódina que garantirá anos de cobertura jornalística no geral tediosa.

Grosso modo, são as duas opções dadas no cenário político do Ocidente: de um lado, Donald Trump, Marine Le Pen, Alexis Tsipras; do outro, François Hollande, Angela Merkel, Mariano Rajoy.

Sem afinidades, os líderes não se gostam.

Resultado: temos encontros bilaterais embaraçosos como o abaixo entre Obama e Putin, onde um homem não consegue quebrar a tensão nem preparando chá com uma bota.

De tal deserto vamos à nostalgia, que nos leva ao passado, tema deste blog.

Mas não um passado tão distante. O ano da saudade é 1999. Dezoito anos atrás podíamos dizer que, ao menos sob meu prisma, a política internacional era uma festa.

Problemas como guerras, crises monetárias, desigualdade crescente e escândalos de toda sorte haviam, é claro.

Mas eram geridos por chefes de Estado e de governo bons vivants, o que certamente tornava tudo mais suportável. Inclusive para nós, espectadores.

Para onde olhássemos, havia figuras faceiras. Nos EUA, tínhamos Bill Clinton, que, não satisfeito em levar à frente um bom governo, era risonho e tocava saxofone.

Bill mantinha bromance sincero com o premiê britânico Tony Blair, que só deixaria de ser querido anos depois.

Ambos se davam bem com Jacques Chirac, o icônico presidente francês cujo charme e convivialité não pareciam ser ofuscados nem pelas acusações de envolvimento em casos de corrupção. É certo que parte considerável da opinião pública francesa não pensa o mesmo, mas o leitor entenderá o lado bom de Jacques nesta loja que o cultua por meio de estampas da camisetas e o slogan Smooth pimping, suave gangsterism.

Até onde hoje impera a sisudez ou a autocracia havia membros do dream team. Na Alemanha, o simpático Gerhard Schröder ficou conhecido como “chanceler Audi” ou “Senhor dos Anéis” após quatro casamentos.

Na Rússia, Bóris Iéltsin, que deixou o poder em 1999, o que explica nosso ano-corte, dispensa apresentações. Amistoso com Bill Clinton, bebia como poucos e parecia mais interessado em uma boa gargalhada do que em reconstruir seu país após décadas de comunismo.

Avistavam-se membros desse wine club de mandatários até em países periféricos, como no Brasil de Fernando Henrique Cardoso, outro que circulava com galhardia nas então agradabilíssimas cúpulas internacionais.

(Em tempos de polarização, o leitor talvez cobre a inclusão de Luiz Inácio Lula da Silva nessas reminiscências. Embora personagem vistoso e provavelmente mais desenvolto e festivo que FHC, a verdade é que Lula –e Barack Obama, diga-se– foram soluços tardios e solitários quando a regra já eram figuras como George W. Bush, Vladimir Putin e, argh, Nicolas Sarkozy. Convenhamos.)

Por que os ares da política mundial já foram tão mais respiráveis? Como foi possível conciliar ao mesmo tempo tantos governantes afáveis nas ideias e no trato? Como recuperar a nonchalance? E por que eles estavam sempre rindo tanto?

Alguns atribuirão ao clima de relativa concórdia pós-Guerra Fria. Aqueles anos 90 moleques, em que a globalização despertava ranger de dentes no máximo em fóruns em Porto Alegre ou em protestos em frente a reuniões da OMC.

Talvez em um mundo com terrorismo, crises migratórias, desemprego em alta e caixas de comentários na internet nunca mais voltemos a nos divertir despreocupadamente com nossos líderes.

Enquanto eleições não vêm, resta erguer um brinde à confraria de Bill, Tony, Jacques, Gerhard, Bóris e etc.

Longa vida aos dignitários festivos!

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Da engorda ao abate: o fim da dinastia Romanov nas mãos da Revolução Russa https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/03/08/da-engorda-ao-abate-o-fim-brutal-da-dinastia-romanov-na-maos-da-revolucao-russa/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/03/08/da-engorda-ao-abate-o-fim-brutal-da-dinastia-romanov-na-maos-da-revolucao-russa/#respond Thu, 09 Mar 2017 00:24:27 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2017/03/Nicholas_II_and_children_with_Cossacks_of_the_Guard_cropped-180x109.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=548 Forçado a abdicar pelos revolucionários russos em março de 1917, o czar Nicolau 2º ajudou a traçar seu destino e de sua família logo após ser derrubado.

“Eu nunca deixaria a Rússia, eu a amo demais”, respondeu diante dos apelos de que deixasse o país o quanto antes, segundo relato de Simon Sebag Montefiore no livro “The Romanovs – 1613-1918”.

(Mais detalhes sobre a chamada Revolução de Fevereiro –que completa 100 anos nesta quarta-feira (8) e se chama assim por ter ocorrido sob o antigo calendário juliano– estão nesta reportagem de Igor Gielow.)

Uma transferência da família Romanov para o Reino Unido chegou a ser articulada –Nicolau era primo do rei britânico George 5º–, mas não vingou.

Nicolau 2º rodeado pela czarina Alexandra, as princesas Maria, Anastasia, Tatiana, Olga, e o príncipe Alexei

De início, o ex-czar foi bem tratado pelo frágil Governo Provisório, de maioria liberal.

A família foi para Tsarskoe Selo, aprazível residência palaciana próxima de Petrogrado (hoje São Petersburgo). Lá, plantavam e tomavam sol.

Eram protegidos pelo primeiro-ministro socialista Alexander Kerênski, de perfil moderado.

“Essa pessoa tem um papel positivo. Quanto mais poder ele tiver, melhor as coisas serão”, animou-se antes da hora Nicolau.

Certa vez, ao ser pressionado a executar o ex-déspota, Kerênski respondeu: “Eu não serei o Marat da Revolução Russa!”, em referência ao revolucionário francês, conforme conta o escritor e padre anticomunista Edmund Walsh, que escreveu sobre a queda dos Romanov no fim dos anos 1920.

O premiê disse ver a ex-czarina Alexandra “simplesmente como uma mãe, ansiosa e chorosa”.

Em que pese o clima amistoso que parecia reinar, Kerênski decidiu por mandar os Romanov para Tobolsk, na Sibéria, a mais de 2.800 km de São Petrogrado, sob o argumento de que eles corriam riscos no clima de convulsão interna que assolava a então capital russa.

Nicolau e Alexei no exílio em Tobolsk, em 1917 (coleção da Universidade Yale)

(Uma provocação, registrada por Edmund Walsh: se estivesse realmente preocupado com a segurança da família, o novo líder russo poderia tê-los enviado para a Crimeia, onde estavam Romanov de segunda grandeza que conseguiriam escapar do país. Mas ele preferiu despachar o ex-imperador e autocrata de todas as Rússias, título que tivera Nicolau, para a região gélida que fora destino de tantos inimigos do czarismo.)

Mesmo em endereço tão pouco convidativo, a família derrubada ainda não estava na pior. Foram acondicionados em uma confortável residência de governador.

Enquanto Petrogrado passava fome, Nicolau escrevia à mãe, que estava na Crimeia. “A comida aqui é excelente e há bastante, então todos nós nos adaptamos bem a Tobolsk e engordamos uns três, quatro quilos.”

Deu ruim em outubro

O vento ia começar a virar a partir de outubro (novembro, no calendário atual) de 1917.

Montagem com os rosto de Lênin e Kerênski (Theo Lamar/Folhapress)

Os bolcheviques, ala mais radical liderada por Vladimir Lênin e que defendia uma revolução direta liderada por uma vanguarda proletária, derrubaram Kerênski, cujo grupo queria uma transição democrática e burguesa antes de entregar o país, só um dia, às massas socialistas e operárias.

Os bolcheviques tinham bem menos apreço pelos Romanov.

Da Sibéria, a ficha demorou a cair. Nicolau passava o tempo maldizendo os novos donos do poder. Profundamente antissemita, via nos judeus a culpa pela sua desgraça. As filhas do ex-czar se divertiam com os guardas, chegando a decorar uma árvore de Natal para a família e outra para os soldados.

O massacre

Em fevereiro de 1918, a nova realidade bateu à porta. A família foi transferida para Ecaterimburgo, a 600 km a oeste de Tobolsk, com muito menos conforto.

Os comissários bolcheviques pressionavam por um julgamento dos Romanov.

O líder comunista protelava a decisão, mas temia deixar o ex-czar vivo com o novo regime russo ainda tão frágil. Hesitava, porém, quanto à execução das crianças da família. Sua referência era a Revolução Francesa, que guilhotinara o rei e a rainha, mas poupara os rebentos.

O temor de que eles acabassem resgatados por aliados do czarismo levou os bolcheviques, por fim, a decidirem –com o beneplácito de Lênin– pelo extermínio da família inteira.

A operação foi comandada por um grupo liderado pelo agente da política secreta Iakov Iurovski, de 33 anos. Integrava o grupo Peter Ermakov, que certa vez serrara a cabeça de um homem durante um assalto a banco.

Simulando mais uma transferência, os assassinos levaram os Romanov a uma sala.

Iurovski leu a sentença de morte e atirou em Nicolau. O restante do pelotão, que deveria mirar nos demais membros da família imperial, também preferiu apontar para o ex-czar.

Como o restante da família não morrera imediatamente, instalou-se um pandemônio de vários minutos até que todos fossem mortos.

O drama se prolongou porque os Romanov haviam escondido joias e diamantes nas roupas, o que criou coletes à prova de balas informais. Alguns tiveram que ser mortos a golpes de baionetas.

Entre os assassinados, estava o pequeno príncipe herdeiro Alexei, de 13 anos. Sem ter morrido na hora devido à proteção de joias, foi esfaqueado e baleado na cabeça pelos agentes.

Ao fim do banho de sangue, mais de sete quilos de joias foram coletados dos corpos dos Romanov, que foram despidos e queimados com fogo e ácido.

“Ninguém nunca saberá o que aconteceu”, disse Iurovski.

Apenas décadas depois, com o fim da URSS, as ossadas seriam desenterradas e identificadas.

“Nós nos silenciamos por muito tempo sobre esse crime monstruoso. O massacre de Ecaterimburgo se tornou um dos momentos mais vergonhosos de nossa história”, disse em 1998 o então presidente russo Bóris Iéltsin.

 

 

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Presidentes brasileiros já chamaram Fidel de mito, tímido, moderado e planejaram derrubá-lo https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2016/11/26/presidentes-brasileiros-ja-chamaram-fidel-de-mito-timido-moderado-e-planejaram-derruba-lo/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2016/11/26/presidentes-brasileiros-ja-chamaram-fidel-de-mito-timido-moderado-e-planejaram-derruba-lo/#respond Sat, 26 Nov 2016 17:53:47 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2016/11/jkfidel-180x131.png http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=510 Michel Temer foi comedido ao comentar a morte de Fidel Castro, chamando o cubano de “homem de convicções”.

Um comentário tímido que faz sentido, já que Temer está em campo oposto da esquerda brasileira e latino-americana que, em boa medida, vê um ídolo no líder da Revolução Cubana.

Como fez com quase todos, Fidel despertou reações apaixonadas também na classe política brasileira, que ao longo das décadas dedicou ao cubano todo tipo de sentimento, a depender da matiz ideológica: ódio anticomunista, temor (mesmo quando não havia) de conspirações para trocar a ditadura militar por uma ditadura do proletariado e cobranças por democratização.

O regime cubano também teve por parte dos líderes brasileiros reconhecimento por avanços na saúde e na educação, solidariedade contra o embargo dos EUA, vista grossa aos abusos aos direitos humanos e tietagem pura e simples.

Veja abaixo o que alguns presidentes brasileiros disseram sobre Fidel.


 

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Fidel Castro brinda com Juscelino Kubitschek em banquete oferecido pelo presidente brasileiro em Brasília

“Isto é minha opinião particular: Fidel Castro é uma força nova que está surgindo nestas Américas. Poderá fazer muita coisa. Será, dentro de pouco tempo, um dos líderes de grande força”

Juscelino Kubitschek, em 30 de abril de 1959, após receber, em uma Brasília ainda em obras, o líder cubano que acabava de chegar ao poder e fazia giro pelo continente

“Recebi um convite do primeiro-ministro Fidel Castro com alta distinção. Na minha qualidade de candidato à Presidência da República, entendo ser meu dever acompanhar os fenômenos políticos mundiais com a atenção que reclamam, sobretudo por ser em nosso continente”

Jânio Quadros, então candidato a presidente em 1960, respondendo às críticas a sua viagem a Cuba, onde foi recebido por Fidel, elogiou o líder cubano (“tímido, mas perfeito líder que exerce fascínio sobre o povo”, como definiu o enviado do “O Estado de S. Paulo”) e defendeu implantar no Brasil uma reforma agrária à cubana (o que não fez); na Presidência, voltou a causar polêmica ao condecorar Che Guevara

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General Emílio Médici, chefe da ditadura militar brasileira, e o presidente americano Richard Nixon (Associated Press)

“O presidente Médici disse então que havia um grande número de exilados cubanos por toda a América; ele acreditava que havia agora um milhão de cubanos nos Estados Unidos. Esses homens diziam ter forças para derrubar o regime de Castro. A questão surgiu, deveríamos ajudá-los ou não? O presidente [Richard Nixon, dos EUA] ponderou e disse que ele acreditava que nós deveríamos, contanto que não os pressionássemos a fazer algo que não poderíamos apoiar, e contanto que nossa mão não aparecesse. O presidente Médici concordou, dizendo que sob nenhuma circunstância qualquer assistência que déssemos fosse visível. Se houvesse qualquer coisa que o presidente [Nixon] acreditasse que o Brasil pudesse fazer para ajudar, ele [Médici] estaria grato de conversar por um canal privado”

Memorando americano que relata conversa na Casa Branca entre o general Emílio Garrastazu Médici, à frente da ditadura brasileira, e o presidente dos EUA, Richard Nixon, em 9 de dezembro de 1971

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Fidel Castro vai a Belo Horizonte e se encontra com o então governador Itamar Franco, em julho de 1999 (AP Photo/Mauricio de Souza)

“O progresso das reformas econômicas e o avanço das aberturas políticas são responsabilidade do povo cubano. Tal processo deve ser apoiado por uma política de mão estendida. Nada se ganhará com o continuado isolamento político e econômico daquele país”

Itamar Franco, em 9 de setembro de 1994, ao defender o fim do embargo americano a Cuba

Venezuela 13.08.2001 Foto: Patricia Santos/Folha Imagem - Chegada de FHC,Fidel e Hugo Chavez a cidade de Santa Elena de Uairen para a inauguracao da linha de transmissao eletrica entre Venezuela e Brasil na Subestacao de Santa Elena de Uairen.
Fidel, presidente venezuelano Hugo Chávez (morto em 2013) e FHC se encontram em inauguração de linha de transmissão elétrica entre Brasil e Venezuela, em agosto de 2001. (Patricia Santos/Folhapress)

“Ele [João Paulo 2º] teve simpatia pelo Fidel Castro e o achou um homem de fundo cristão —me parece uma observação genuína do papa. Aliás, também tenho essa impressão do Fidel Castro a esta altura da vida. A de um homem mais moderado. Não sei se ele terá capacidade de romper com sua biografia e fazer o que Cuba precisa que ele faça, mas seria muito bom que ele próprio liderasse essa nova etapa pelo qual o país tanto anseia —e que vai acontecer—, de mais liberdade e de uma forma menos selvagem de socialismo e de capitalismo. Mas não creio que Fidel tenha capacidade de se ver em outro papel que não o tradicional. Talvez ele seja demasiado estátua para poder aceitar uma mudança não de função, mas de visão do mundo”

Fernando Henrique Cardoso, em 17 de fevereiro de 1997, em seus diários

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Lula fotografa Fidel Castro em encontro em Havana, em janeiro de 2008 (Governo de Cuba/Divulgação)

“O grande mito continua. Ele construiu isso à custa de muita competência, muito caráter e força de vontade e também de muita divergência e polêmica (…) Tenho um gesto com Fidel inesquecível. Ele foi à posse do [Fernando] Collor e foi a São Bernardo almoçar comigo. Raramente um líder visita quem perde uma eleição. Quando perdi eleição para governo de Estado em 1982, e quando fui a Cuba, ele perguntou em que parte do mundo um operário tem 1,2 milhão de votos. Eu que me achava o mais derrotado, me achei mais importante (…) Eu respeito que cada povo decida o seu regime político. Vamos deixar que os cubanos cuidem do que querem na política e vamos cuidar nós do Brasil. Se cada um cuidar do seu nariz, está bom demais (…) O que complica é quando começam a dar palpite nas coisas dos outros. Isso pode gerar conflitos. Os cubanos têm maturidade para resolver seus problemas sem precisar de ingerências brasileiras ou americanas.”

Luiz Inácio Lula da Silva, em 19 de fevereiro de 2008, após Fidel renunciar à Presidência de Cuba

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Dilma Rousseff aproveita visita oficial para se reunir com Fidel Castro em Havana, em janeiro de 2014 (AP Photo/Cubadebate/Alex Castro)

“Ele [Fidel] está bem, ele está inteiro, lúcido. É muito interessante, porque uma pessoa que viveu um período muito grande da história do mundo e conheceu pessoalmente muitas coisas, e ele tem uma excelente memória, e conta as histórias… É muito interessante. (…) Ele falou muito… Ele estava discutindo num momento, você veja como as conversas são. Nós começamos a conversar sobre… ele estava falando sobre o [Nikita] Kruschev, e falou sobre – porque o [líder soviético Nikita] Kruschev foi responsável pela direção em Stalingrado. Ele discutiu a guerra, depois falou do Napoleão, aí discutiu sobre o Napoleão. E fala sobre toda a história da América Latina e do mundo”

Dilma Rousseff, em 28 de janeiro de 2014, relatando encontro com o já ex-ditador em Havana

]]> 0 Temer confundiu os verdadeiros cavaleiros de Carlos Magno com os lendários do rei Artur https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2016/09/12/temer-confundiu-os-verdadeiros-cavaleiros-de-carlos-magno-com-os-lendarios-do-rei-artur/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2016/09/12/temer-confundiu-os-verdadeiros-cavaleiros-de-carlos-magno-com-os-lendarios-do-rei-artur/#respond Mon, 12 Sep 2016 21:17:14 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2016/09/Albrecht_Dürer_-_Emperor_Charlemagne-94x180.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=444 A primeira entrevista de Michel Temer à frente em definitivo da Presidência da República, ao jornal “O Globo”, veio acompanhada de uma gafe.

O presidente fez uma confusão e relacionou o imperador Carlos Magno, que existiu, à Távola Redonda, que é lenda.

Ao fim da entrevista, relata o diário carioca, Temer olhou para a mesa de seu gabinete, com 12 lugares.

“Eu me sinto aqui como Carlos Magno. Quando eu tinha 11 anos de idade, eu ganhei um livro chamado ‘Carlos Magno e os 12 cavaleiros da Távola Redonda’ e eu li aquele livro e era assim: os 12 cavaleiros”, disse, segundo o jornal.

Os cavaleiros da Távola Redonda eram, de acordo com a literatura medieval europeia, ligados ao lendário rei Artur. Embora estudos indiquem que a figura teria conexão com algum líder militar que de fato existiu no atual Reino Unido, o monarca como o conhecemos é obra de ficção.

O formato circular da mesa do rei, forma idêntica à de Temer, seria para conferir aos cavaleiros que ali se reuniam status igualitário (no caso do governo brasileiro, tem exibido ascendência na mesa o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha).

O mais célebre cavaleiro da Távola Redonda era Lancelot. Nas histórias do rei Artur, aparecem ainda a espada Excalibur, a fada Morgana e o mago Merlin.

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Obra do século 14 retrata o mítico rei Artur

Via assessoria, Temer disse que, ao citar a mítica Távola Redonda, quis se referir, na verdade, aos “12 pares da França”, estes sim cavaleiros submetidos a Carlos Magno, rei dos francos que virou imperador e estendeu seus domínios pela Europa Ocidental na virada do século 8º para o 9º.

Os “12 pares” formavam uma espécie de tropa de elite a serviço do imperador. Destacava-se entre esses cavaleiros Rolando, que passou de nobre obscuro a um dos mais icônicos cavaleiros medievais após morrer em uma batalha. Segundo parte dos relatos, seria sobrinho de Carlos Magno.

Aos fatos se somaram lendas e Rolando virou objeto de um poema épico que canta seus feitos, “A Canção de Rolando”. Cultuado em diversas parte da Europa, o cavaleiro passou a ser retratado como um gigante com força descomunal e dono de uma espada indestrutível com a qual ele teria aberto uma gigantesca fenda na rocha até hoje existente nos Pirineus.

Estátuas de Rolando multiplicaram-se, sobretudo na atual Alemanha. O Brasil tem a sua em Rolândia, no Paraná, batizada, veja só, em homenagem ao cavaleiro de Carlos Magno.

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