Único critério possível para escolher entre França e Croácia é, claro, histórico em relação aos interesses brasileiros

Como se comportar neste domingo? Torcer para a zebra croata e ver o circo das Copas pegar fogo? Ou para a França, respeitando tradições e evitando que arrivistas banalizem a taça?

Apressados defenderão que se torça para o melhor futebol.

Exagerados evocarão simpatias e antipatias pelas nações, percursos históricos, estilos de mandatários, virtudes gastronômicas, qualidade das praias e estética de hinos ou bandeiras nacionais. Mas o que isso tudo tem a ver com uma final de Copa do Mundo?

Só há um critério possível ao espectador brasileiro patriota: o histórico dos dois países finalistas em relação aos nossos próprios interesses nacionais. Qual país é menos motivo de constrangimento para o Brasil do ponto de vista, por exemplo, bélico?

Sobre a Croácia, há pouco a dizer. Tendo se declarado independente apenas em 1991, a nação eslava tem tão poucos elos geopolíticos com o Brasil que os principais lances da relação incluem encontros, este ano, da presidente croata com Geraldo Alckmin e Paulo Skaf.

Não há registros de incidentes diplomáticos ou militares graves.

A decisão sobre a torcida recai, portanto, sobre nossos séculos de relação com o Estado francês.

Aí o jogo esquenta. Quando ainda não éramos um país, a França tentou tomar nosso território colonial em várias oportunidades, de São Luís ao Rio.

Para o lamento dos que fantasiam com uma Paris n’América e para alegria dos que imaginam um passado à la Indochina, os franceses foram repelidos pelos portugueses.

Aninharam-se, porém, como nossos vizinhos, formando a Guiana Francesa.

De lá, entre o fim do século 19 e o começo do 20, estimularam separatismos no atual Amapá e chegaram a invadi-lo em 1895.

Sob o custo de vidas militares e civis, mantivemos nossa integridade.

Vai, Croácia?

Calma. Depois disso, a paz franco-brasileira imperou.

Evitamos derramar sangue em 1961, quando não foi adiante suposto plano de Jânio Quadros de anexar a Guiana, ou em 1963, quando uma tal Guerra da Lagosta apenas mobilizou navios de guerra dos dois lados nos mares do Nordeste.

É falso que no meio dessa crise o presidente Charles de Gaulle tenha dito que o Brasil não é um país sério.

Se há dúvida de que o saldo da relação é benéfico para nós, o desempate vem do ataque de Napoleão, que ao mandar para cá, fugida, a corte de dom João 6º, lançou involuntariamente a semente da independência brasileira.

José Bonifácio fecha com Mbappé.


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