Aos interessados em 2018, convém levar em conta a pouco conhecida maldição presidencial

A chance considerável de Lula ser preso após ser condenado em segunda instância inclui o petista no rol dos presidentes brasileiros com vidas marcadas por infortúnios.

Olhando em retrospecto, a maioria daqueles –e daquela– que chegaram ao cargo público máximo do país acabou, uma hora ou outra, dando-se mal.

A frequência é tamanha que cabe sugerir a existência de uma maldição dos presidentes, ideia que certamente só não encontra maior eco por ser pura ficção e carecer de qualquer rigor científico. (Não me esforçarei aqui para convencer aqueles que, de forma muito compreensível, repudiam minha análise fantasiosa e sobrenatural dos fatos)

Lógica à parte, vamos aos elementos que dão força à tese de que maus ventos rondam a chefia do Poder Executivo federal.

Com seu dramático suicídio, Getúlio Vargas é o exemplo máximo deste mal.

Depois dele, tivemos os problemas de saúde e o afastamento de Café Filho, a renúncia de Jânio Quadros e o golpe que derrubou e exilou João Goulart.

JK, que parecia que sairia incólume após benquista presidência, acabou tendo o cargo de senador cassado pela ditadura militar (bom texto a respeito aqui). Foi pressionado a se exilar e, de volta, teve a vida devassada por investigações que em nada dariam. Como se não bastasse, morreu em um acidente de carro em 1976.

A SINA DOS ELEITOS

De Getúlio para cá, entre os eleitos pelo voto popular, só se salvaram de derrubadas, punições judiciais e outros contratempos Eurico Gaspar Dutra e –até agora– Fernando Henrique Cardoso.

Além dos já citados, encontraram maus destinos Collor e Dilma, derrubados pelo impeachment.

Os que chegaram ao poder sem ter sido eleitos diretamente para o cargo tiveram mais sorte, casos de Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo, que apesar de tudo que se deu em seus governos, concluíram suas presidências e não foram importunados posteriormente nem por clamores político-jurídicos nem por mortes terríveis.

Também não enfrentaram a aparente sina presidencial os inicialmente vices Itamar Franco e –até agora– José Sarney e Michel Temer.

Mas para mostrar que a maldição parece não poupar os indiretos, urge lembrar de Castelo Branco, morto em acidente aéreo após deixar a presidência; Costa e Silva, vítima de derrame cerebral que o tirou do cargo e o matou pouco depois; e Tancredo, que nem conseguiu tomar posse.

VELHA ESPERANÇA?

Nosso recorte pós-getulista já indica números suficientemente alarmantes para os interessados em registrar candidatura em 2018.

Dos 19 citados, 11 tiveram destinos nefastos e 8 deles escaparam.

Os negacionistas da tese do cargo amaldiçoado talvez mirem a República Velha, apostando que os tempos oligárquicos protegeriam mais nossos mandatários.

Enganam-se.

De 13 da época, só 3, bem ou mal, foram poupados: Prudente de Morais, Campos Sales e Venceslau Brás.

Primeiro presidente, Deodoro da Fonseca foi forçado a renunciar após tentar um autogolpe, morrendo menos de um ano depois.

Após uma tumultuada presidência, seu sucessor, Floriano Peixoto, com saúde bastante debilitada, também morreu nos meses que se seguiram a sua saída do cargo, com apenas 56 anos.

Rodrigues Alves foi vitimado pela gripe espanhola antes de assumir seu segundo mandato presidencial.

Afonso Pena padeceu de uma pneumonia fatal durante o mandato.

Delfim Moreira alternava momentos de lucidez com insânia, pouco governando na prática. Foi outro a morrer menos de um ano após deixar a presidência.

Hermes da Fonseca passou meses na cadeia, já ex-presidente, após se envolver na revolta tenentista. Solto, morreria naquele mesmo 1923.

A sorte também não sorriu para Washington Luís, preso e exilado pelo movimento de 1930; Artur Bernardes, que também seria detido por se opor a Getúlio; Júlio Prestes, eleito e impedido pelos revolucionários de tomar posse; e Epitácio Pessoa, que, ex-presidente, perdeu o mandato de senador pós-1930, desencantou-se com o novo regime, afastou-se da política e morreu com mal de Parkinson e problemas cardíacos.

SALVAM-SE OS REIS?

Voltando atrás mais algumas casas, para o Império, o mau agouro é ainda mais regra.

Dom Pedro 1º foi forçado a abdicar ao trono brasileiro, protagonizou uma guerra civil em Portugal e morreu com 35 anos.

Seu filho, Pedro 2º, foi mais longevo e teve um reinado mais estável, mas acabou por ser derrubado pelos republicanos e banido do país, morrendo no exílio aos 66.

Somados os dois regimes, decerto resta inconclusiva a hipótese de que uma maldição assola nossos líderes.

Os mais racionais se exaltarão, dizendo –com absoluta razão– que a profusão de trajetórias conturbadas se deve mais às personalidades dessas figuras e às estruturas nacionais do que à minha tese mística.

Pode ser, pode ser.

De todo modo, insisto: talvez não tenha sido uma boa ideia construir um país sobre um cemitério indígena.