Renúncia de Collor em momento final não impediu julgamento pelo Senado

Fernando Collor se irritou ao saber que o Senado manteve o julgamento de seu impeachment após ele ter renunciado à Presidência da República.

Se Dilma Rousseff foi à Casa se defender, o presidente afastado de 1992 entregou o cargo logo após o início da sessão na esperança de que se livraria ao menos da perda de direitos políticos.

Os senadores descartaram a hipótese. Em resposta, Collor mandou dizer, via porta-voz, que aquilo se tratava de um “tribunal de exceção”.

Prometeu recorrer ao Supremo Tribunal Federal e seguir na vida política, submetendo-se ao “julgamento das urnas”.

Ele voltaria a se eleger em 2006, ao Senado, onde está até hoje, tendo votado pelo afastamento de Dilma.

O primeiro dia de julgamento daquele impeachment teve comemoração de congressistas com a renúncia, enquanto pessoas nas galerias do Senado cantavam “Pra não dizer que não falei de flores”, de Geraldo Vandré.

O dia também foi dedicado a ouvir testemunhas do processo.

A renúncia, decidida por Collor solitariamente na manhã daquele 29 de dezembro, irritou aliados pegos de surpresa.

Na noite anterior, em jantar com alguns deles regado a uísque e empadão de Goiás, ele não falara que tomaria a medida.

“A renúncia não deixa de ser uma admissão de culpa”, atacou um dos mais fiéis aliados no Senado, Áureo Mello (PRN-AM), acrescentando que “esse Collor é um cara de pau”.

A votação que decidiu pelo prosseguimento do julgamento –73 votos a 8– já sinalizava a surra que Collor levaria dos senadores. Só ficaram a seu lado alguns membros de sua sigla, o PRN, e de PFL (atual DEM) e PDS (hoje PP).


 

Durante o fim de semana, dois textos da série “Enquanto isso, em 1992”, foram publicados na internet como reportagens em “Poder”, sem virarem posts do blog. Você pode lê-los aqui: a expectativa de que Collor falasse no Senado e a relação azeda entre o presidente afastado e o interino, Itamar Franco.