A cidade que homenagearia uma amante e outras origens dos nomes de municípios de São Paulo
Quando se fala da origem dos nomes de lugares brasileiros, muitos lembram do vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo. O nome do local remete a um rio que, segundo os índios, teria características demoníacas, daí o uso da expressão em tupi “anhanga”.
Os nomes acabam banalizados no dia a dia e não se costuma parar para pensar na origem indígena de palavras como Ibirapuera, Mogi Mirim, Araçatuba etc.
Uma mesa-redonda nesta quarta-feira (17) em São Paulo para contar um pouco sobre a origem dos nomes dos municípios paulistas. O encontro reunirá o diretor do Museu da Língua Portuguesa, Antonio Carlos Sartini, o jornalista e artista plástico Enio Squeff e o tradutor e mestre em línguas indígenas Marcel Ávila.
A mesa antecede a inauguração de uma exposição sobre o tema em Itápolis, no interior do Estado, em setembro. A mostra se baseia no livro “Origem dos nomes dos municípios paulistas”, de Squeff e de Helder Perri Frerreira.
Segundo Sartini, mais de 70% das cidades de São Paulo terem origem em expressões indígenas. Ele lembra o caso de Sorocaba, que remete a “sororoca”, rasgos na terra da região. Já Araçatuba significa um lugar (“uba” em tupi) de árvores araçás. A mesma lógica se aplica a Caraguatatuba, local de caraguatás, uma planta.
Nem tudo é só tupi. Itápolis, por exemplo, mistura “itá”, pedra em tupi, e “pólis”, cidade, em grego. Narandiba vai além misturando o “naranja” de laranja, em espanhol, e “tyba”, um ajuntamento, em tupi. Em alguns casos não foi mesmo possível encontrar uma explicação a contento, como Cajamar e Lindoia.
O caso mais saboroso e inusitado vem de Adamantina, que teria duas gêneses. Na menos palpitante delas, seria uma referência a “adamantino”, isto é, o caráter sólido como diamante de seus moradores. Ficamos com a versão considerada menos provável pelos autores, segundo a qual o nome faria referência a Ada, a amante de um diretor da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, formando a supostamente discreta expressão “Ada amante minha”.
Há ainda, claro, a profusão a nomes católicos, como o mais evidente caso de São Paulo, nome pioneiro do cristianismo.
Além da questão da origem do nome, Sartini, do Museu da Língua Portuguesa, chama atenção para o fato de como municípios mais recentes tendem mais a homenagear personalidades, e não remeter a expressões indígenas.
No extremo oeste paulista, por exemplo, temos a série de referências a presidentes brasileiros, como Presidente Prudente, Presidente Epitácio, Presidente Bernardes e Presidente Venceslau. Só o último deles remete a um presidente homenageado ainda vivo. No caso, Venceslau Brás.