Alguns episódios que reforçam a sina de agosto, o mês do cachorro louco

Rodrigo Vizeu

Agosto promete, como contei na Folha nesta segunda-feira (1º). O mês que ganhou fama por ser dado a tempestades pode definir o destino de Dilma Rousseff e Eduardo Cunha e reforçar a impressão de que se trata do “mês do cachorro louco”, no qual as coisas mais inacreditáveis acontecem.

A história brasileira deu sua contribuição para reforçar a crendice em torno do “mês do desgosto”, mas sua origem vem, como boa parte das coisas boas e ruins da pátria, de Portugal.

Segundo o folclorista Mário Souto Maior, as mulheres portuguesas não casavam em agosto porque este era o mês preferido para os navios deixarem o país em busca de novos territórios para o reino.

Como casar neste mês significava ficar sem lua-de-mel ou mesmo viúva logo após o matrimônio, cunhou-se a expressão: “Casar em agosto traz desgosto”. A superstição veio para a colônia e persiste em várias regiões do país (os destemidos que ousam contrariá-la podem, inclusive, conseguir bons descontos).

Em seu “Dicionário do Folclore Brasileiro”, Câmara Cascudo define agosto como “o mês das desgraças e das infelicidades” nos países latinos.

Veja abaixo alguns acontecimentos que ajudaram a construir a aura em torno do pobre oitavo mês do calendário.

Suicídio de Getúlio Vargas

 

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Getúlio Vargas ao lado do vice Café Filho e de Tancredo Neves (UH/Folhapress)

O presidente que foi ditador e ficou conhecido como “pai dos pobres” se matou com um tiro no peito em 24 de agosto de 1954. Era pressionado a renunciar após denúncias de corrupção e envolvimento do chefe de sua guarda pessoal no assassinato de um major. Ficou célebre o trecho de sua carta-testamento na qual afirma: “Saio da vida para entrar na história”.

 

Renúncia de Jânio Quadros

 

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Jânio condecora o ministro cubano Che Guevara em agosto de 1961 (Folhapress)

Também sob pressões, o presidente renunciou de forma surpreendente em 25 de agosto de 1961, menos de sete meses depois de assumir o cargo. Também deixou cartinha famosa, afirmando: “Forças terríveis se levantaram contra mim”. Sua saída abriu uma crise no país após militares resistirem a deixar tomar posse o vice João Goulart. Jango acabou assumindo o cargo em um regime parlamentarista que acabaria rejeitado em um plebiscito.

 

Morte de Juscelino Kubitschek

 

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JK se encontra com jogadores da seleção brasileira (UH/Folhapress)

JK, que fora presidente de 1956 e a 1961, viva no ostracismo imposto pelo regime militar, que cassara seus direitos políticos e o pressionava com investigações. Morreu em um acidente na via Dutra em 22 de agosto de 1976. O caso foi cercado de controvérsias sobre não teria sido um assassinato, o que foi descartado pela Comissão Nacional da Verdade.

 

Morte de Eduardo Campos

 

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Eduardo Campos em São Paulo na semana anterior à sua morte (Joel Silva/Folhapress)

O então candidato a presidente pelo Partido Socialista Brasileiro morreu em 13 de agosto de 2014 em um acidente aéreo em Santos (SP). A vice Marina Silva, hoje na Rede, assumiu a candidatura, embolando a disputa, mas acabou em terceiro lugar.

 

Morte de Lady Di

 

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Selo de 1981 comemora o casamento entre Diana Spencer e o príncipe Charles (AP Photo/Royal Mail)

Causou comoção em todo o mundo a morte da princesa de Gales, primeira mulher do príncipe Charles, em um acidente de carro em 31 de agosto de 1997. Diana estava acompanhada de seu namorado, Dodi Al-Fayed, e os dois fugiam de paparazzi.

 

Noite de São Bartolomeu

 

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Óleo de François Dubois retrata o ataque dos católicos contra os protestantes em Paris

Em um dos mais sanguinários episódios de intolerância religiosa da história, uma multidão católica massacrou protestantes em Paris no fim de agosto de 1572. O número de mortos pode ter chegado a 30 mil. Embora haja controvérsias, acredita-se que a matança tenha começado sob inspiração da mãe do rei Carlos 9º, Catarina de Médici.

 

Bombardeios de Hiroshima e Nagasaki

 

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Fotografia tirada três minutos após bomba nuclear atingir a cidade de Nagasaki (AP Photo/USAF)

Em declaração em 26 de julho de 1945, o presidente americano Harry Truman e seus aliados cobraram a rendição incondicional do Japão na 2ª Guerra Mundial sob pena de “pronta e total destruição”. Os japoneses não aceitaram e os EUA bombardearam Hiroshima em 6 de agosto e Nagasaki no dia 9. A estreia das bombas nucleares mataram centenas de milhares e faria o Japão se render menos de uma semana depois.