Em atos dominados pela esquerda, presidente da UNE defendia greve se Collor ficasse

Rodrigo Vizeu

“Vai acabar, vai acabar, essa mania de roubar”, entoava um dos gritos de guerra contra Fernando Collor.

A mania não acabou, como anos e governos ensinariam, assim como continuariam a haver manifestações pelo afastamento de presidentes da República.

Os protestos de 1992 se diferenciavam dos atuais pela predominância de PT, PC do B, CUT e UNE, hoje contra o impeachment. Os estudantes e suas caras pintadas viraram símbolo das ruas.

Políticos de outros matizes apareciam, mas muitas vezes eram vaiados pela maioria de esquerda, como ocorreu com o candidato a prefeito de São Paulo pelo PDS (atual PP), Paulo Maluf.

O governador Leonel Brizola (PDT-RJ) descartou ir a um ato (na foto) às vésperas do afastamento dizendo estar “velho demais para levar vaias desses fedelhos do PT”.

Os protestos contra Collor começaram a explodir em agosto, após ele conclamar a população a ir às ruas de verde e amarelo. Ela foi, mas vestida de preto.

No fim do mês, antes de a CPI que investigava o esquema de PC Farias votar seu relatório final, pessoas protestaram em 31 cidades –em São Paulo, foram 80 mil (Datafolha) ou 200 mil (PM).

Os protestos continuaram em setembro, embora o progressivo consenso em torno da queda de Collor lhes tirasse urgência.

Mas os movimentos mantiveram a pressão até a votação no plenário da Câmara. Telões foram instalados em praças.

O Movimento pela Ética na Política, que reunia grupos críticos ao governo, recomendou que as pessoas fossem as ruas desde o dia 28.

“O povo com certeza irá ocupar as ruas para mostrar aos deputados o que querem seus eleitores. Os deputados não irão apenas votar o impeachment. Na verdade, seus mandatos estarão sendo julgados pelos eleitores”, disse José Roberto Batochio, então presidente da OAB-SP e hoje defensor do ex-ministro petista Antonio Palocci.

Em Brasília, os manifestantes esperavam reunir 200 mil no “Dia D” (foram 100 mil, calculou a PM). Não houve muro separando atos –Collor não tinha movimentos organizados a seu lado.

Em São Paulo, estudantes foram da Paulista ao Anhangabaú, palco do grande ato pelo impeachment.

O presidente da UNE, Lindbergh Farias, 22, queria greve geral por tempo indeterminado se o afastamento não passasse. Hoje investigado na Lava Jato, o hoje senador pelo PT se opõe ao impeachment de Dilma.