Voos em jatinhos de deputados garantiam votos para afastar Collor
Deputados da comissão que analisava o impeachment de Fernando Collor recorreram a colegas proprietários de aeronaves particulares para garantir o número de votos para afastar o presidente.
Em 22 de setembro de 1992, a dois do colegiado votar o impeachment, oposicionistas diziam já ter conseguido ao menos quatro jatinhos para assegurar o transporte de parlamentares favoráveis à saída de Collor e que alegassem dificuldade de chegar a Brasília no dia da votação.
Entre os deputados que emprestariam suas aeronaves pelo impeachment estava Sérgio Naya (PMDB-MG).
Menos de seis anos depois, em fevereiro de 1998, Naya (na foto) se tornaria conhecido pelo desabamento do edifício Palace 2, no Rio, que deixou oito mortos e 150 famílias desabrigadas. Dono da construtora, teve o mandato cassado. Morreu em 2009.
Um dos coordenadores do uso de jatinhos era Sarney Filho (PFL-MA), hoje no PV. Sua irmã Roseana atuava na linha de frente da articulação pró-impeachment.
Os aviões serviriam principalmente para aqueles que queriam usar a desculpa da falta de voos para não comparecer à votação.
Àquela altura, os oposicionistas contavam com ampla vitória na comissão, além de até 348 votos favoráveis no plenário, mais do que o necessário para afastar Collor.
Porém, a oposição dizia só querer votar com certeza da presença de pelo menos 360 defensores do impeachment na Câmara. “Ainda precisamos trabalhar por uma ampla vantagem”, afirmava o presidente do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.
Lula propunha a interrupção do trabalho nas empresas na hora da decisão. “Não é greve, mas uma paralisação para acompanhar a votação”, explicou o petista, comparando o clima do dia ao Brasil jogando na Copa do Mundo.