Vai achando que é só com imagem de satélite que dá para fazer mapa do Brasil

Rodrigo Vizeu

Capitanias hereditárias, seres mitológicos, desconhecimento do interior e atuais Estados com formatos bizarros. Para quem está acostumado com o Google Maps ou com os monotonamente precisos mapas dos livros didáticos, vale muito navegar pelos mapas já feitos pelo Brasil do Descobrimento até o Império. Uma época em que cartógrafos resolviam as coisas sem as facilidades de satélites e GPS.

O geógrafo Luiz Carlos da Silva, professor do ensino fundamental da rede municipal do Rio, reuniu alguns desses mapas, feitos de 1519 até 1886, e que estão nos acervos das bibliotecas nacionais de Brasil e de Portugal e na do Congresso dos EUA. A íntegra está aqui.

“Inicialmente pensando em estimular a curiosidade dos meus alunos pela geografia, bolei mostrar a eles como o Brasil foi mapeado, por meio do trabalho impressionante de cartógrafos ao longo de quatro séculos”, explica Silva.

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O mapa acima, de 1574 e de autoria de Giacomo Gastaldi, mostra a jovem colônia dividida em capitanias hereditárias e respeitando os limites do Tratado de Tordesilhas. O detalhamento da costa, mais conhecida, é muito maior do que o do interior do território.  Atenção para o bom naco de terra “de Sua Majestade” e para o tamanho meio desproporcional da bacia do rio da Prata.

“Esta fato chama atenção para a enorme importância que naquela época era dada à descoberta do Eldorado, que acreditou-se que poderia ser alcançado através da navegação deste rio”, conta o professor ao comentar outro mapa, do mesmo século, que também exibe a bacia de forma distorcida.

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Neste outro, de 1740, de autor desconhecido e com textos em italiano, a colônia é chamada de Brasil, mas também de Terra de Santa Cruz. Mais de dois séculos depois do Descobrimento, o território ainda era conhecido por um dos primeiros nomes que recebeu dos portugueses. A colônia também é chamada assim em um mapa em inglês de 1750.

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Talvez o mais sui generis dos mapas da coleção em matéria de divisão de territórios, este exemplar de autoria de John Luffmann, de 1808, ano da chegada da família real portuguesa ao Brasil, também é o mais sincerão, avisando logo o leitor que o “interior do país é muito imperfeitamente conhecido”. A Amazônia também aparece separada, como em muitos outros mapas.

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Este mapa do trio Alphonse de Beauchamp, Pedro Cyriaco da Silva e Pedro José de Figueiredo data de 1821, um ano antes da Independência. Na época, o Brasil integrava um Reino Unido com Portugal. A imagem mostra o território subdividido entre o que viriam a se tornar as províncias do Império e, depois, os Estados da República.

O risco lembra o desenho feito por alguém que se arrisca a fazer um mapa do Brasil de cabeça sem nunca ter sido um aluno muito bom de geografia. Piauí e Maranhão, por exemplo, não aparecem muito diferentes do que são hoje. Mas a imagem não exibia uma Minas Gerais como conhecemos hoje e São Paulo e Paraná eram uma coisa só –o que só deixariam de ser em 1853.

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A carta de C. Brockes, datada de 1878, mostra enfim um Brasil independente –na época, um império sob a égide de dom Pedro 2º. É o mais semelhante da coleção aos mapas que conhecemos hoje. A maioria das províncias exibem divisas não muito diferentes das conhecidas hoje. As unidades que ainda careciam de desbravamento, como Mato Grosso e Pará, aparecem com limites mais fluidos.

Ainda não tínhamos Amapá, Roraima, Rondônia e Tocantins, cujas áreas integravam outras províncias, ou o Acre, que só passaria a fazer parte do Brasil em 1903.

(Dica do leitor e amigo Gabriel F. Marinho)