A História Como Ela Foi https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br passagens marcantes e curiosidades do Brasil e do mundo Sat, 14 Jul 2018 05:00:55 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Lula é o primeiro presidente da história do Brasil preso após condenação penal https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2018/04/06/lula-e-o-primeiro-presidente-da-historia-do-brasil-preso-apos-condenacao-penal/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2018/04/06/lula-e-o-primeiro-presidente-da-historia-do-brasil-preso-apos-condenacao-penal/#respond Fri, 06 Apr 2018 11:05:17 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2018/04/menor-320x213.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=879 Luiz Inácio Lula da Silva, 72, é a primeira pessoa a ocupar a cadeira de presidente da República a ser presa após ser condenado na esfera penal.

Na história republicana, só tiveram a cadeia como destino mandatários ou ex-mandatários suspeitos ou acusados de crimes políticos, em meio a crises e golpes.

O próprio Lula tem outra prisão, em 1980, em seu histórico, mas que não conta no critério porque 1) embora popular líder sindical, ele ainda estava a muitos anos de ter em sua biografia a faixa presidencial; e 2) o encarceramento ocorreu sob a ditadura militar, quando inexistia no país Estado de direito –o jovem sindicalista foi tirado de casa sob acusação de “incitação à desordem”, chegou a ser condenado na Justiça Militar e o processo acabou anulado. Um juízo político, portanto.

O caso que mais se aproxima do caso da atual situação Lula, com algum tipo de tramitação na esfera judicial, ocorreu há quase 96 anos.

Em julho de 1922, foi preso o marechal Hermes da Fonseca, que chefiara o Poder Executivo federal de 1910 a 1914 –cerca de sete anos e meio após deixar a cadeira presidencial, intervalo semelhante ao do petista.

Então presidente do Clube Militar, Hermes teve a prisão decretada pelo próprio presidente Epitácio Pessoa, após contestar a repressão do governo contra grupos insatisfeitos com a eleição de Artur Bernardes para o Palácio do Catete.

Após sofrer um infarto, o ex-presidente foi liberado, voltando a ser preso dias depois, com a revolta no Forte de Copacabana. Com o tenentismo em seu pé, Epitácio decretou estado de sítio.

Hermes seria libertado após um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal em seu favor em janeiro de 1923. Doente, morreria em setembro daquele ano.

A defesa argumentava que o ex-presidente sofria constrangimento ilegal, pois estava preso sem culpa formada e com o processo irregularmente na esfera militar quando o caso era de crime político, sujeito à jurisdição civil.

Mas se também teve processo judicial, o caso Hermes foi essencialmente político, além de reunir as excentricidades de um Brasil de instituições consideravelmente mais fracas que as de hoje.

Eram os tempos da república oligárquica do café com leite, que vetava o voto secreto, dos numerosos analfabetos e até dos “mendigos”, conforme grafava a Constituição da época.

MAIS PRISÕES

As demais prisões de mandatários brasileiros ocorreram sob ainda mais arbítrio.

Com direitos políticos cassados pela ditadura iniciada em 1964, Juscelino Kubitschek foi aprisionado em um quartel após a edição do AI-5, em 1968, que endureceu o regime. Em seguida, passou um mês em prisão domiciliar.

Jânio Quadros foi outro detido naquele ano, ainda antes do AI-5, por ter feito críticas ao regime militar. Por ordem do governo, ficou temporariamente “confinado” a Corumbá, que hoje integra Mato Grosso do Sul. Ele era natural de Campo Grande.

A Era Vargas coleciona dois ex-presidentes presos. A primeira vítima foi Washington Luís, que, deposto pelo levante liderado por Getúlio Vargas em 1930, foi preso e partiu para o exílio.

Artur Bernardes perdeu a liberdades duas vezes. Primeiro, em 1932, ao apoiar a Revolução Constitucionalista. Depois, em 1939, após Getúlio decretar o Estado Novo.

Já Café Filho (1954-1955) chegou a ficar mantido incomunicável em seu apartamento, guardado pelo Exército, antes de ter seu impedimento votado pelo Congresso durante a crise que precedeu a posse de JK.

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Aos interessados em 2018, convém levar em conta a pouco conhecida maldição presidencial https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2018/01/25/aos-interessados-em-2018-convem-levar-em-conta-a-pouco-conhecida-maldicao-presidencial/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2018/01/25/aos-interessados-em-2018-convem-levar-em-conta-a-pouco-conhecida-maldicao-presidencial/#respond Thu, 25 Jan 2018 04:03:29 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/8dc95904ee25edb3121a15c2fde031fba7f688710fdbe9f7b2a6e3c2c0ceb47d_5a26dcdd1c3f8-180x120.jpeg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=814 A chance considerável de Lula ser preso após ser condenado em segunda instância inclui o petista no rol dos presidentes brasileiros com vidas marcadas por infortúnios.

Olhando em retrospecto, a maioria daqueles –e daquela– que chegaram ao cargo público máximo do país acabou, uma hora ou outra, dando-se mal.

A frequência é tamanha que cabe sugerir a existência de uma maldição dos presidentes, ideia que certamente só não encontra maior eco por ser pura ficção e carecer de qualquer rigor científico. (Não me esforçarei aqui para convencer aqueles que, de forma muito compreensível, repudiam minha análise fantasiosa e sobrenatural dos fatos)

Lógica à parte, vamos aos elementos que dão força à tese de que maus ventos rondam a chefia do Poder Executivo federal.

Com seu dramático suicídio, Getúlio Vargas é o exemplo máximo deste mal.

Depois dele, tivemos os problemas de saúde e o afastamento de Café Filho, a renúncia de Jânio Quadros e o golpe que derrubou e exilou João Goulart.

JK, que parecia que sairia incólume após benquista presidência, acabou tendo o cargo de senador cassado pela ditadura militar (bom texto a respeito aqui). Foi pressionado a se exilar e, de volta, teve a vida devassada por investigações que em nada dariam. Como se não bastasse, morreu em um acidente de carro em 1976.

A SINA DOS ELEITOS

De Getúlio para cá, entre os eleitos pelo voto popular, só se salvaram de derrubadas, punições judiciais e outros contratempos Eurico Gaspar Dutra e –até agora– Fernando Henrique Cardoso.

Além dos já citados, encontraram maus destinos Collor e Dilma, derrubados pelo impeachment.

Os que chegaram ao poder sem ter sido eleitos diretamente para o cargo tiveram mais sorte, casos de Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo, que apesar de tudo que se deu em seus governos, concluíram suas presidências e não foram importunados posteriormente nem por clamores político-jurídicos nem por mortes terríveis.

Também não enfrentaram a aparente sina presidencial os inicialmente vices Itamar Franco e –até agora– José Sarney e Michel Temer.

Mas para mostrar que a maldição parece não poupar os indiretos, urge lembrar de Castelo Branco, morto em acidente aéreo após deixar a presidência; Costa e Silva, vítima de derrame cerebral que o tirou do cargo e o matou pouco depois; e Tancredo, que nem conseguiu tomar posse.

VELHA ESPERANÇA?

Nosso recorte pós-getulista já indica números suficientemente alarmantes para os interessados em registrar candidatura em 2018.

Dos 19 citados, 11 tiveram destinos nefastos e 8 deles escaparam.

Os negacionistas da tese do cargo amaldiçoado talvez mirem a República Velha, apostando que os tempos oligárquicos protegeriam mais nossos mandatários.

Enganam-se.

De 13 da época, só 3, bem ou mal, foram poupados: Prudente de Morais, Campos Sales e Venceslau Brás.

Primeiro presidente, Deodoro da Fonseca foi forçado a renunciar após tentar um autogolpe, morrendo menos de um ano depois.

Após uma tumultuada presidência, seu sucessor, Floriano Peixoto, com saúde bastante debilitada, também morreu nos meses que se seguiram a sua saída do cargo, com apenas 56 anos.

Rodrigues Alves foi vitimado pela gripe espanhola antes de assumir seu segundo mandato presidencial.

Afonso Pena padeceu de uma pneumonia fatal durante o mandato.

Delfim Moreira alternava momentos de lucidez com insânia, pouco governando na prática. Foi outro a morrer menos de um ano após deixar a presidência.

Hermes da Fonseca passou meses na cadeia, já ex-presidente, após se envolver na revolta tenentista. Solto, morreria naquele mesmo 1923.

A sorte também não sorriu para Washington Luís, preso e exilado pelo movimento de 1930; Artur Bernardes, que também seria detido por se opor a Getúlio; Júlio Prestes, eleito e impedido pelos revolucionários de tomar posse; e Epitácio Pessoa, que, ex-presidente, perdeu o mandato de senador pós-1930, desencantou-se com o novo regime, afastou-se da política e morreu com mal de Parkinson e problemas cardíacos.

SALVAM-SE OS REIS?

Voltando atrás mais algumas casas, para o Império, o mau agouro é ainda mais regra.

Dom Pedro 1º foi forçado a abdicar ao trono brasileiro, protagonizou uma guerra civil em Portugal e morreu com 35 anos.

Seu filho, Pedro 2º, foi mais longevo e teve um reinado mais estável, mas acabou por ser derrubado pelos republicanos e banido do país, morrendo no exílio aos 66.

Somados os dois regimes, decerto resta inconclusiva a hipótese de que uma maldição assola nossos líderes.

Os mais racionais se exaltarão, dizendo –com absoluta razão– que a profusão de trajetórias conturbadas se deve mais às personalidades dessas figuras e às estruturas nacionais do que à minha tese mística.

Pode ser, pode ser.

De todo modo, insisto: talvez não tenha sido uma boa ideia construir um país sobre um cemitério indígena.

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Diferentemente do que disse Lula, familiar de juiz não matou Antônio Conselheiro em Canudos https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2018/01/17/ao-contrario-do-que-disse-lula-familiar-de-juiz-nao-matou-antonio-conselheiro-em-canudos/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2018/01/17/ao-contrario-do-que-disse-lula-familiar-de-juiz-nao-matou-antonio-conselheiro-em-canudos/#respond Thu, 18 Jan 2018 00:06:52 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/AHi_j0076-180x119.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=799 Não é verdadeira a declaração de Lula de que um parente do presidente do TRF-4, Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz, matou Antônio Conselheiro, líder da revolta de Canudos, no fim do século 19.

Em ato na terça (16), o petista afirmou: “Esse cidadão é bisneto do general que invadiu Canudos e matou Antônio Conselheiro. Talvez ele ache que eu seja cidadão de Canudos”.

Foram três as incorreções do ex-presidente da República.

Segundo o TRF-4, Flores é na verdade sobrinho trineto de Tomás Thompson Flores.

Ele era coronel, e não general, quando foi morto em combate durante tentativa do Exército de subjugar o arraial baiano.

O militar, que também foi deputado federal no começo da República, foi morto em junho de 1897.

Conselheiro só morreria em setembro daquele ano.

Prisioneiros feitos pelo Exército em Canudos (Flávio de Barros/Arquivo Histórico do Museu da República)

Em “Os Sertões”, obra que tornou célebre o conflito em Canudos, Euclydes da Cunha escreveu sobre o trisavô do juiz: “Era um lutador de primeira ordem. Embora lhe faltassem atributos essenciais de comando e, principalmente, esta serenidade de ânimo, que permite a concepção fria das manobras dentro do afogueamento de um combate –sobravam-lhe coragem a toda a prova e um quase desprezo pelo antagonista por mais temeroso e forte, que o tornavam incomparável na ação”.

Em seguida, Cunha faz o relato que levou à morte do militar, que, impetuoso e descuidado, avançou sobre os inimigos identificado como oficial, tornando-se alvo fácil.

“A sua brigada investiu, batida em cheio pelos fogos diretos do inimigo entrincheirado; e, quase cem metros da posição primitiva, a vanguarda desenvolveu-se em atiradores. O coronel Flores que, a cavalo, lhe tomara a frente, descavalgou, então, a fim de pessoalmente ordenar a linha de fogo. Por um requinte dispensável, de bravura, não arrancara dos punhos os galões que o tornavam alvo predileto dos jagunços. Ao reatar-se, logo depois, a avançada, baqueou, ferido em pleno peito, morto.”

Tendo à frente Conselheiro e seu rígido messianismo católico, o movimento de Canudos ficou famoso não apenas graças a Euclydes da Cunha, mas pela façanha dos revoltosos miseráveis de rechaçar seguidas ofensivas do Exército brasileiro.

A então jovem República ganhou a opinião pública ao vender Conselheiro e seus seguidores como fanáticos ligados a um plano para restaurar a monarquia.

O corpo exumado de Antônio Conselheiro (Flávio de Barros/Arquivo Histórico do Museu da República)

O experimento comunal de Canudos, que atraiu sertanejos empobrecidos da região, e a repressão dele pelos militares fez com que, décadas depois, o líder da revolta fosse resgatado como ícone na esquerda brasileira.

AVÔ NO SUPREMO

Além de parente do coronel de trágico fim, o presidente do TRF-4 é neto do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Carlos Thompson Flores.

Nomeado para a corte pelo presidente Costa e Silva, segundo militar a comandar o país sob a ditadura militar, o ministro Flores guarda em sua biografia críticas ao regime.

Em 1977, ano em que assumiu a presidência do STF, ele defendeu o fim das restrições contidas nos atos institucionais. Voltou ao tema no ano seguinte, quando disse esperar para breve o fim do AI-5.

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Nunca antes na história do país um ex-presidente havia sido condenado por um crime https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/07/12/nunca-antes-na-historia-do-pais-um-ex-presidente-havia-sido-condenado-por-um-crime/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/07/12/nunca-antes-na-historia-do-pais-um-ex-presidente-havia-sido-condenado-por-um-crime/#respond Wed, 12 Jul 2017 17:21:47 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2017/06/BX212_3FE2_9-180x115.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=687 Um clichê lulista se aplica à condenação de Luiz Inácio Lula da Silva: nunca antes na história deste país.

Uma sentença condenatória na esfera penal contra presidentes ou ex-presidentes da República é algo inédito no Brasil.

Não que antecessores e sucessores do petista não tenham sido alvos na Justiça, mas nenhum deles chegou a ser objeto de decisão judicial desfavorável.

TEMER E COLLOR, DENUNCIADOS

Quem mais chegou perto da situação de Lula foram Michel Temer (2016-) e Fernando Collor (1990-1992).

Os dois são os únicos a terem sido alvos de denúncia ainda durante seus mandatos –embora só o primeiro estivesse no exercício da função ao sê-lo.

O atual presidente, com seu caso notoriamente em curso, é denunciado pela Procuradoria-Geral da República sob acusação de corrupção passiva no âmbito da delação da JBS.

A Câmara discute se dá aval ao prosseguimento da acusação. Só então o Supremo Tribunal Federal poderia tornar Temer réu e, depois, condená-lo ou absolvê-lo.

Já Collor foi denunciado, também sob a acusação de corrupção, um mês e meio antes de ser definitivamente cassado pelo Senado no seu processo de impeachment.

À época da acusação da PGR, ele estava temporariamente afastado da Presidência.

O primeiro presidente eleito pelo voto direto após o fim da ditadura militar seria, porém, absolvido por falta de provas.

Collor chora em sua festa de 50 anos, em 1999

Hoje senador, Collor voltou a ser denunciado pela PGR, em 2015, no âmbito da Operação Lava Jato, mas a Justiça ainda não decidiu sobre torná-lo ou não réu.

Só a partir daí poderia haver uma eventual condenação.

DILMA E SARNEY, INVESTIGADOS

A ex-presidente Dilma Rousseff (2011-2016) é hoje investigada, junto com Lula, sob suspeita de tentar obstruir a Lava Jato. Ainda não houve denúncia ou pedido de arquivamento pela Procuradoria.

Também é investigado sob suspeita de tentar atrapalhar a Lava Jato José Sarney (1985-1990). Mais uma vez, ainda não houve acusação da PGR.

JK E JANGO, INVESTIGADOS PELA DITADURA

Ex-presidentes também foram alvo de investigação no contexto do regime militar que vigorou no país de 1964 a 1985.

É importante, porém, diferenciar a atual ordem constitucional e democrática, com independência do Judiciário, daquele período, no qual o governo operava à margem do Estado de Direito e mecanismos legais arbitrários serviam aos interesses da ditadura.

Adversários dos militares e com direitos políticos cassados, os ex-presidentes Juscelino Kubitschek (1956-1961) e João Goulart (1961-1964) foram investigados sob suspeita de enriquecimento ilícito.

JK em 1963, após deixar a Presidência (Acervo UH/Folhapress)

Os dois foram alvos da temida Comissão Geral de Investigação, tribunal sumário chefiado pelas Forças Armadas que existia à revelia do sistema judicial.

Os processos contra JK e Jango não tiveram prosseguimento e eles não chegaram a ser condenados –embora JK tenha sido mantido sob cárcere em um quartel pós-AI-5, e depois passado um mês em prisão domiciliar.

Os presidentes do período militar –Castelo Branco, Costa e Silva, Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo–, embora tenham comandado o país em meio a desaparecimentos e torturas de presos políticos sob a custódia do Estado, nunca foram processados.

A lei da anistia perdoou tanto opositores do regime quanto militares.

Tampouco foi processado Getúlio Vargas, ditador entre 1937 e 1945 e que se suicidou em 1954, durante seu segundo governo, desta vez democrático. À época, o entorno do presidente era investigado.

OS PRESOS

Condenado em primeira instância, Lula só será preso em caso de sentença de segunda instância que confirme a decisão de Moro.

A história guarda episódios de presidentes e ex-presidentes presos, mas sempre sem condenações em processos judiciais.

Em julho de 1922, o marechal Hermes da Fonseca, que estivera à frente do país de 1910 a 1914, foi encarcerado após se envolver na revolta tenentista.

Hermes da Fonseca, presidente entre 1910 e 1914, foi preso em 1922

Hermes seria libertado após um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal em seu favor em janeiro de 1923.

A defesa argumentava que o ex-presidente sofria constrangimento ilegal, pois estava preso sem culpa formada e com o processo irregularmente na esfera militar quando o caso era de crime político, sujeito à jurisdição civil.

Também foi preso Washington Luís (1926-1930), forçado a deixar a cadeira presidencial pelo golpe de 1930, que levaria Vargas ao poder. Em seguida, o presidente deposto partiu para o exílio.

Capa de “O Globo” com a notícia da deposição de Washingon Luís. Saída de presidente do palácio foi fotografada pelo jornalista Roberto Marinho

Outra vítima do varguismo foi Artur Bernardes (1922-1926). O ex-presidente foi preso por apoiar os revoltosos constitucionalistas de 1932 e passou alguns meses confinado em sua fazenda durante a ditadura do Estado Novo, em 1939.

Já Café Filho (1954-1955) chegou a ficar mantido incomunicável em seu apartamento, guardado pelo Exército, antes de ter seu impedimento votado pelo Congresso durante a crise que precedeu a posse de JK.

PEDRO 2º, BANIDO

O primeiro chefe de Estado brasileiro punido não foi um presidente, mas um imperador, mais uma vez à margem do sistema judicial.

Exilados após a proclamação da república, dom Pedro 2º e sua família foram banidos em 1889 do território nacional por meio de um decreto do governo provisório chefiado pelo marechal Deodoro da Fonseca, que liderou o golpe que derrubou o regime monárquico.

A medida só seria revertida 31 anos depois.

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Presidentes brasileiros já chamaram Fidel de mito, tímido, moderado e planejaram derrubá-lo https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2016/11/26/presidentes-brasileiros-ja-chamaram-fidel-de-mito-timido-moderado-e-planejaram-derruba-lo/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2016/11/26/presidentes-brasileiros-ja-chamaram-fidel-de-mito-timido-moderado-e-planejaram-derruba-lo/#respond Sat, 26 Nov 2016 17:53:47 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2016/11/jkfidel-180x131.png http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=510 Michel Temer foi comedido ao comentar a morte de Fidel Castro, chamando o cubano de “homem de convicções”.

Um comentário tímido que faz sentido, já que Temer está em campo oposto da esquerda brasileira e latino-americana que, em boa medida, vê um ídolo no líder da Revolução Cubana.

Como fez com quase todos, Fidel despertou reações apaixonadas também na classe política brasileira, que ao longo das décadas dedicou ao cubano todo tipo de sentimento, a depender da matiz ideológica: ódio anticomunista, temor (mesmo quando não havia) de conspirações para trocar a ditadura militar por uma ditadura do proletariado e cobranças por democratização.

O regime cubano também teve por parte dos líderes brasileiros reconhecimento por avanços na saúde e na educação, solidariedade contra o embargo dos EUA, vista grossa aos abusos aos direitos humanos e tietagem pura e simples.

Veja abaixo o que alguns presidentes brasileiros disseram sobre Fidel.


 

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Fidel Castro brinda com Juscelino Kubitschek em banquete oferecido pelo presidente brasileiro em Brasília

“Isto é minha opinião particular: Fidel Castro é uma força nova que está surgindo nestas Américas. Poderá fazer muita coisa. Será, dentro de pouco tempo, um dos líderes de grande força”

Juscelino Kubitschek, em 30 de abril de 1959, após receber, em uma Brasília ainda em obras, o líder cubano que acabava de chegar ao poder e fazia giro pelo continente

“Recebi um convite do primeiro-ministro Fidel Castro com alta distinção. Na minha qualidade de candidato à Presidência da República, entendo ser meu dever acompanhar os fenômenos políticos mundiais com a atenção que reclamam, sobretudo por ser em nosso continente”

Jânio Quadros, então candidato a presidente em 1960, respondendo às críticas a sua viagem a Cuba, onde foi recebido por Fidel, elogiou o líder cubano (“tímido, mas perfeito líder que exerce fascínio sobre o povo”, como definiu o enviado do “O Estado de S. Paulo”) e defendeu implantar no Brasil uma reforma agrária à cubana (o que não fez); na Presidência, voltou a causar polêmica ao condecorar Che Guevara

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General Emílio Médici, chefe da ditadura militar brasileira, e o presidente americano Richard Nixon (Associated Press)

“O presidente Médici disse então que havia um grande número de exilados cubanos por toda a América; ele acreditava que havia agora um milhão de cubanos nos Estados Unidos. Esses homens diziam ter forças para derrubar o regime de Castro. A questão surgiu, deveríamos ajudá-los ou não? O presidente [Richard Nixon, dos EUA] ponderou e disse que ele acreditava que nós deveríamos, contanto que não os pressionássemos a fazer algo que não poderíamos apoiar, e contanto que nossa mão não aparecesse. O presidente Médici concordou, dizendo que sob nenhuma circunstância qualquer assistência que déssemos fosse visível. Se houvesse qualquer coisa que o presidente [Nixon] acreditasse que o Brasil pudesse fazer para ajudar, ele [Médici] estaria grato de conversar por um canal privado”

Memorando americano que relata conversa na Casa Branca entre o general Emílio Garrastazu Médici, à frente da ditadura brasileira, e o presidente dos EUA, Richard Nixon, em 9 de dezembro de 1971

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Fidel Castro vai a Belo Horizonte e se encontra com o então governador Itamar Franco, em julho de 1999 (AP Photo/Mauricio de Souza)

“O progresso das reformas econômicas e o avanço das aberturas políticas são responsabilidade do povo cubano. Tal processo deve ser apoiado por uma política de mão estendida. Nada se ganhará com o continuado isolamento político e econômico daquele país”

Itamar Franco, em 9 de setembro de 1994, ao defender o fim do embargo americano a Cuba

Venezuela 13.08.2001 Foto: Patricia Santos/Folha Imagem - Chegada de FHC,Fidel e Hugo Chavez a cidade de Santa Elena de Uairen para a inauguracao da linha de transmissao eletrica entre Venezuela e Brasil na Subestacao de Santa Elena de Uairen.
Fidel, presidente venezuelano Hugo Chávez (morto em 2013) e FHC se encontram em inauguração de linha de transmissão elétrica entre Brasil e Venezuela, em agosto de 2001. (Patricia Santos/Folhapress)

“Ele [João Paulo 2º] teve simpatia pelo Fidel Castro e o achou um homem de fundo cristão —me parece uma observação genuína do papa. Aliás, também tenho essa impressão do Fidel Castro a esta altura da vida. A de um homem mais moderado. Não sei se ele terá capacidade de romper com sua biografia e fazer o que Cuba precisa que ele faça, mas seria muito bom que ele próprio liderasse essa nova etapa pelo qual o país tanto anseia —e que vai acontecer—, de mais liberdade e de uma forma menos selvagem de socialismo e de capitalismo. Mas não creio que Fidel tenha capacidade de se ver em outro papel que não o tradicional. Talvez ele seja demasiado estátua para poder aceitar uma mudança não de função, mas de visão do mundo”

Fernando Henrique Cardoso, em 17 de fevereiro de 1997, em seus diários

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Lula fotografa Fidel Castro em encontro em Havana, em janeiro de 2008 (Governo de Cuba/Divulgação)

“O grande mito continua. Ele construiu isso à custa de muita competência, muito caráter e força de vontade e também de muita divergência e polêmica (…) Tenho um gesto com Fidel inesquecível. Ele foi à posse do [Fernando] Collor e foi a São Bernardo almoçar comigo. Raramente um líder visita quem perde uma eleição. Quando perdi eleição para governo de Estado em 1982, e quando fui a Cuba, ele perguntou em que parte do mundo um operário tem 1,2 milhão de votos. Eu que me achava o mais derrotado, me achei mais importante (…) Eu respeito que cada povo decida o seu regime político. Vamos deixar que os cubanos cuidem do que querem na política e vamos cuidar nós do Brasil. Se cada um cuidar do seu nariz, está bom demais (…) O que complica é quando começam a dar palpite nas coisas dos outros. Isso pode gerar conflitos. Os cubanos têm maturidade para resolver seus problemas sem precisar de ingerências brasileiras ou americanas.”

Luiz Inácio Lula da Silva, em 19 de fevereiro de 2008, após Fidel renunciar à Presidência de Cuba

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Dilma Rousseff aproveita visita oficial para se reunir com Fidel Castro em Havana, em janeiro de 2014 (AP Photo/Cubadebate/Alex Castro)

“Ele [Fidel] está bem, ele está inteiro, lúcido. É muito interessante, porque uma pessoa que viveu um período muito grande da história do mundo e conheceu pessoalmente muitas coisas, e ele tem uma excelente memória, e conta as histórias… É muito interessante. (…) Ele falou muito… Ele estava discutindo num momento, você veja como as conversas são. Nós começamos a conversar sobre… ele estava falando sobre o [Nikita] Kruschev, e falou sobre – porque o [líder soviético Nikita] Kruschev foi responsável pela direção em Stalingrado. Ele discutiu a guerra, depois falou do Napoleão, aí discutiu sobre o Napoleão. E fala sobre toda a história da América Latina e do mundo”

Dilma Rousseff, em 28 de janeiro de 2014, relatando encontro com o já ex-ditador em Havana

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