A História Como Ela Foi https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br passagens marcantes e curiosidades do Brasil e do mundo Sat, 14 Jul 2018 05:00:55 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 O incrível tempo em que os líderes mundiais divertiam o povo https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/03/17/o-incrivel-tempo-em-que-os-lideres-mundiais-divertiam-o-povo/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2017/03/17/o-incrivel-tempo-em-que-os-lideres-mundiais-divertiam-o-povo/#respond Fri, 17 Mar 2017 18:08:52 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2017/03/330300_3747550-180x138.jpg http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=570 A vitória do premiê conservador moderado Mark Rutte na Holanda acalmou o establishment europeu. Afinal, pelo menos um dos fantasmas da extrema direita no continente foi derrotado, no caso Geert Wilders, conhecido pelas ideias xenófobas, pela islamofobia e pelo cabelo tufado.

Mas o post não é sobre política holandesa, que provavelmente causa sonolência no leitor, ou sobre a ascensão de radicais na Europa.

O caso holandês só serve de exemplo de um drama que vivem os apreciadores do noticiário internacional de hoje: a absoluta ausência de líderes que despertem alegria e divirtam o povo.

No país dos moinhos e do stroopwafel, dois tipos estavam em jogo. Um derrotado que, embora renda manchetes bombásticas, representava risco para a civilização. E um vencedor que, mesmo que intelectualmente coerente, é um figura anódina que garantirá anos de cobertura jornalística no geral tediosa.

Grosso modo, são as duas opções dadas no cenário político do Ocidente: de um lado, Donald Trump, Marine Le Pen, Alexis Tsipras; do outro, François Hollande, Angela Merkel, Mariano Rajoy.

Sem afinidades, os líderes não se gostam.

Resultado: temos encontros bilaterais embaraçosos como o abaixo entre Obama e Putin, onde um homem não consegue quebrar a tensão nem preparando chá com uma bota.

De tal deserto vamos à nostalgia, que nos leva ao passado, tema deste blog.

Mas não um passado tão distante. O ano da saudade é 1999. Dezoito anos atrás podíamos dizer que, ao menos sob meu prisma, a política internacional era uma festa.

Problemas como guerras, crises monetárias, desigualdade crescente e escândalos de toda sorte haviam, é claro.

Mas eram geridos por chefes de Estado e de governo bons vivants, o que certamente tornava tudo mais suportável. Inclusive para nós, espectadores.

Para onde olhássemos, havia figuras faceiras. Nos EUA, tínhamos Bill Clinton, que, não satisfeito em levar à frente um bom governo, era risonho e tocava saxofone.

Bill mantinha bromance sincero com o premiê britânico Tony Blair, que só deixaria de ser querido anos depois.

Ambos se davam bem com Jacques Chirac, o icônico presidente francês cujo charme e convivialité não pareciam ser ofuscados nem pelas acusações de envolvimento em casos de corrupção. É certo que parte considerável da opinião pública francesa não pensa o mesmo, mas o leitor entenderá o lado bom de Jacques nesta loja que o cultua por meio de estampas da camisetas e o slogan Smooth pimping, suave gangsterism.

Até onde hoje impera a sisudez ou a autocracia havia membros do dream team. Na Alemanha, o simpático Gerhard Schröder ficou conhecido como “chanceler Audi” ou “Senhor dos Anéis” após quatro casamentos.

Na Rússia, Bóris Iéltsin, que deixou o poder em 1999, o que explica nosso ano-corte, dispensa apresentações. Amistoso com Bill Clinton, bebia como poucos e parecia mais interessado em uma boa gargalhada do que em reconstruir seu país após décadas de comunismo.

Avistavam-se membros desse wine club de mandatários até em países periféricos, como no Brasil de Fernando Henrique Cardoso, outro que circulava com galhardia nas então agradabilíssimas cúpulas internacionais.

(Em tempos de polarização, o leitor talvez cobre a inclusão de Luiz Inácio Lula da Silva nessas reminiscências. Embora personagem vistoso e provavelmente mais desenvolto e festivo que FHC, a verdade é que Lula –e Barack Obama, diga-se– foram soluços tardios e solitários quando a regra já eram figuras como George W. Bush, Vladimir Putin e, argh, Nicolas Sarkozy. Convenhamos.)

Por que os ares da política mundial já foram tão mais respiráveis? Como foi possível conciliar ao mesmo tempo tantos governantes afáveis nas ideias e no trato? Como recuperar a nonchalance? E por que eles estavam sempre rindo tanto?

Alguns atribuirão ao clima de relativa concórdia pós-Guerra Fria. Aqueles anos 90 moleques, em que a globalização despertava ranger de dentes no máximo em fóruns em Porto Alegre ou em protestos em frente a reuniões da OMC.

Talvez em um mundo com terrorismo, crises migratórias, desemprego em alta e caixas de comentários na internet nunca mais voltemos a nos divertir despreocupadamente com nossos líderes.

Enquanto eleições não vêm, resta erguer um brinde à confraria de Bill, Tony, Jacques, Gerhard, Bóris e etc.

Longa vida aos dignitários festivos!

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Presidentes brasileiros já chamaram Fidel de mito, tímido, moderado e planejaram derrubá-lo https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2016/11/26/presidentes-brasileiros-ja-chamaram-fidel-de-mito-timido-moderado-e-planejaram-derruba-lo/ https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/2016/11/26/presidentes-brasileiros-ja-chamaram-fidel-de-mito-timido-moderado-e-planejaram-derruba-lo/#respond Sat, 26 Nov 2016 17:53:47 +0000 https://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/files/2016/11/jkfidel-180x131.png http://ahistoriacomoelafoi.blogfolha.uol.com.br/?p=510 Michel Temer foi comedido ao comentar a morte de Fidel Castro, chamando o cubano de “homem de convicções”.

Um comentário tímido que faz sentido, já que Temer está em campo oposto da esquerda brasileira e latino-americana que, em boa medida, vê um ídolo no líder da Revolução Cubana.

Como fez com quase todos, Fidel despertou reações apaixonadas também na classe política brasileira, que ao longo das décadas dedicou ao cubano todo tipo de sentimento, a depender da matiz ideológica: ódio anticomunista, temor (mesmo quando não havia) de conspirações para trocar a ditadura militar por uma ditadura do proletariado e cobranças por democratização.

O regime cubano também teve por parte dos líderes brasileiros reconhecimento por avanços na saúde e na educação, solidariedade contra o embargo dos EUA, vista grossa aos abusos aos direitos humanos e tietagem pura e simples.

Veja abaixo o que alguns presidentes brasileiros disseram sobre Fidel.


 

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Fidel Castro brinda com Juscelino Kubitschek em banquete oferecido pelo presidente brasileiro em Brasília

“Isto é minha opinião particular: Fidel Castro é uma força nova que está surgindo nestas Américas. Poderá fazer muita coisa. Será, dentro de pouco tempo, um dos líderes de grande força”

Juscelino Kubitschek, em 30 de abril de 1959, após receber, em uma Brasília ainda em obras, o líder cubano que acabava de chegar ao poder e fazia giro pelo continente

“Recebi um convite do primeiro-ministro Fidel Castro com alta distinção. Na minha qualidade de candidato à Presidência da República, entendo ser meu dever acompanhar os fenômenos políticos mundiais com a atenção que reclamam, sobretudo por ser em nosso continente”

Jânio Quadros, então candidato a presidente em 1960, respondendo às críticas a sua viagem a Cuba, onde foi recebido por Fidel, elogiou o líder cubano (“tímido, mas perfeito líder que exerce fascínio sobre o povo”, como definiu o enviado do “O Estado de S. Paulo”) e defendeu implantar no Brasil uma reforma agrária à cubana (o que não fez); na Presidência, voltou a causar polêmica ao condecorar Che Guevara

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General Emílio Médici, chefe da ditadura militar brasileira, e o presidente americano Richard Nixon (Associated Press)

“O presidente Médici disse então que havia um grande número de exilados cubanos por toda a América; ele acreditava que havia agora um milhão de cubanos nos Estados Unidos. Esses homens diziam ter forças para derrubar o regime de Castro. A questão surgiu, deveríamos ajudá-los ou não? O presidente [Richard Nixon, dos EUA] ponderou e disse que ele acreditava que nós deveríamos, contanto que não os pressionássemos a fazer algo que não poderíamos apoiar, e contanto que nossa mão não aparecesse. O presidente Médici concordou, dizendo que sob nenhuma circunstância qualquer assistência que déssemos fosse visível. Se houvesse qualquer coisa que o presidente [Nixon] acreditasse que o Brasil pudesse fazer para ajudar, ele [Médici] estaria grato de conversar por um canal privado”

Memorando americano que relata conversa na Casa Branca entre o general Emílio Garrastazu Médici, à frente da ditadura brasileira, e o presidente dos EUA, Richard Nixon, em 9 de dezembro de 1971

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Fidel Castro vai a Belo Horizonte e se encontra com o então governador Itamar Franco, em julho de 1999 (AP Photo/Mauricio de Souza)

“O progresso das reformas econômicas e o avanço das aberturas políticas são responsabilidade do povo cubano. Tal processo deve ser apoiado por uma política de mão estendida. Nada se ganhará com o continuado isolamento político e econômico daquele país”

Itamar Franco, em 9 de setembro de 1994, ao defender o fim do embargo americano a Cuba

Venezuela 13.08.2001 Foto: Patricia Santos/Folha Imagem - Chegada de FHC,Fidel e Hugo Chavez a cidade de Santa Elena de Uairen para a inauguracao da linha de transmissao eletrica entre Venezuela e Brasil na Subestacao de Santa Elena de Uairen.
Fidel, presidente venezuelano Hugo Chávez (morto em 2013) e FHC se encontram em inauguração de linha de transmissão elétrica entre Brasil e Venezuela, em agosto de 2001. (Patricia Santos/Folhapress)

“Ele [João Paulo 2º] teve simpatia pelo Fidel Castro e o achou um homem de fundo cristão —me parece uma observação genuína do papa. Aliás, também tenho essa impressão do Fidel Castro a esta altura da vida. A de um homem mais moderado. Não sei se ele terá capacidade de romper com sua biografia e fazer o que Cuba precisa que ele faça, mas seria muito bom que ele próprio liderasse essa nova etapa pelo qual o país tanto anseia —e que vai acontecer—, de mais liberdade e de uma forma menos selvagem de socialismo e de capitalismo. Mas não creio que Fidel tenha capacidade de se ver em outro papel que não o tradicional. Talvez ele seja demasiado estátua para poder aceitar uma mudança não de função, mas de visão do mundo”

Fernando Henrique Cardoso, em 17 de fevereiro de 1997, em seus diários

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Lula fotografa Fidel Castro em encontro em Havana, em janeiro de 2008 (Governo de Cuba/Divulgação)

“O grande mito continua. Ele construiu isso à custa de muita competência, muito caráter e força de vontade e também de muita divergência e polêmica (…) Tenho um gesto com Fidel inesquecível. Ele foi à posse do [Fernando] Collor e foi a São Bernardo almoçar comigo. Raramente um líder visita quem perde uma eleição. Quando perdi eleição para governo de Estado em 1982, e quando fui a Cuba, ele perguntou em que parte do mundo um operário tem 1,2 milhão de votos. Eu que me achava o mais derrotado, me achei mais importante (…) Eu respeito que cada povo decida o seu regime político. Vamos deixar que os cubanos cuidem do que querem na política e vamos cuidar nós do Brasil. Se cada um cuidar do seu nariz, está bom demais (…) O que complica é quando começam a dar palpite nas coisas dos outros. Isso pode gerar conflitos. Os cubanos têm maturidade para resolver seus problemas sem precisar de ingerências brasileiras ou americanas.”

Luiz Inácio Lula da Silva, em 19 de fevereiro de 2008, após Fidel renunciar à Presidência de Cuba

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Dilma Rousseff aproveita visita oficial para se reunir com Fidel Castro em Havana, em janeiro de 2014 (AP Photo/Cubadebate/Alex Castro)

“Ele [Fidel] está bem, ele está inteiro, lúcido. É muito interessante, porque uma pessoa que viveu um período muito grande da história do mundo e conheceu pessoalmente muitas coisas, e ele tem uma excelente memória, e conta as histórias… É muito interessante. (…) Ele falou muito… Ele estava discutindo num momento, você veja como as conversas são. Nós começamos a conversar sobre… ele estava falando sobre o [Nikita] Kruschev, e falou sobre – porque o [líder soviético Nikita] Kruschev foi responsável pela direção em Stalingrado. Ele discutiu a guerra, depois falou do Napoleão, aí discutiu sobre o Napoleão. E fala sobre toda a história da América Latina e do mundo”

Dilma Rousseff, em 28 de janeiro de 2014, relatando encontro com o já ex-ditador em Havana

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